O Concílio procurou recuperar a identidade do presbítero para os dias atuais, partindo do principio de que, se a Igreja não pode reinventar hoje o sacerdócio, pode sim se deixar renovar pela sua origem que está no coração de Cristo e, fortalecido n’Ele, reencontrar seu significado e atualidade no caminhar da historia, renovando-o e atualizando-o sempre a partir do sacerdócio de Cristo.
A Igreja entendeu que para promover a renovação da vida cristã, tudo passaria em primeiro lugar pela atualização e transformação da vida religiosa consagrada e sacerdotal presbiteral. A partir dos questionamentos sobre a existência de Deus e da vida cristã ocorridos nos últimos séculos, a Igreja percebeu que a melhor forma de responder a estes questionamentos seria um aprofundamento maior na compreensão desse estado de vida, cujo estilo existencial se fundamenta nos conselhos evangélicos da obediência, da pobreza e da castidade, que devem pautar toda a existência cristã. Da mesma forma nos exercícios quaresmais de oração, jejum e esmola.
Diante do enfraquecimento da vida cristã, apresentada como uma espécie de crise, o Concílio procurou interpretar esta fase da história não como um colapso ou catástrofe, mas como uma grande oportunidade de purificação, de renovação, um verdadeiro kairós oferecido por Deus à sua Igreja como dom, desafio e tarefa. Daí, a necessidade de aceitá-la e assumir conscientemente a sua responsabilidade diante de Deus e da história.
A Igreja constata que, de maneira surpreendente, aumentou substancialmente na humanidade a busca por Deus e de uma orientação segura para a vida de forma mais aceitável, amigável e comprometida. O colapso ou eclipse do sagrado tão apregoado pelos chamados profetas das desgraças não veio. O que ressurgiu foi um novo despertar do sagrado e da procura do transcendente, traduzidos em uma busca constante pelo sentido da vida. Pastores verdadeiros do rebanho são, como sempre, procurados e cada vez mais indispensáveis, muito mais do que se possa imaginar.
O cristianismo assumiu, a partir do Concílio, um protagonismo na nova configuração da humanidade, como nos tempos do início da pregação do evangelho. Pode-se dizer que estamos apenas no início de um novo despertar, de um recomeço, uma refundação.
O Concílio recuperou a consciência do presbítero em seu sentido etimológico, como o mais velho, o mais experiente e sábio, um verdadeiro mistagogo, aquele que conduz ao mistério, que, com toda sua vida e atividade deve ser capaz de demonstrar o esplendor da verdade da fé, numa verdadeira atitude de encarnação, recuperando assim, a teologia do presbiterato das comunidades do Novo Testamento e do primeiro milênio da era cristã.
Buscou a fundamentação do sacerdócio no testemunho dos evangelhos, na vida histórica de Jesus, em sua cruz e ressurreição para oferecer ao mundo as razões da esperança cristã, que, nos dizeres do apóstolo Paulo, é um “culto espiritual/racional” (Rm 12, 1) que sustenta a esperança contra toda esperança (Rm 4,18) e que não se engana.
“Meus irmãos, eu vos peço pela misericórdia de Deus que ofereçais os vossos corpos como uma oferta viva, santa e agradável a Deus. Que este seja o vosso culto espiritual”.
Por: Padre Nelito Dornelas