Quando se discute o começo da vida é inevitável também que se pense em seu fim. Quando termina a vida?
No plano médico, dois critérios clínicos oficiais até recentemente eram simples: parada da respiração (como denunciava o espelho diante da boca) e parada cardíaca (a prova da auscultação). Mas técnicas recentes de reanimação, de perfusão e de respiração artificial permitem manter feridos e doentes em sua vida vegetativa prolongada. Os cientistas procuraram, então, um critério melhor. Na metade da década de 1960, eles centraram suas atenções no cérebro. Quando o eletroencefalograma mostra um traçado plano, durante certo tempo (por exemplo, 48 horas), pode-se ter certeza de que a deterioração do cérebro é irreversível e que a morte está presente. Procurando ainda um diagnóstico mais correto, foram indicados sintomas clínicos secundários. No fim da década de 1980, o debate foi lançado novamente, particularmente pelos neurologistas desejosos de achar critérios mais seguros e mais rápidos a fim de poder retirar dos doentes órgãos a serem enxertados. Tem-se, então, redobrada atenção sobre o conjunto de critérios clínicos, sem excluir, hoje, um primeiro eletroencefalograma.
A questão complica-se, todavia, no momento em que se distingue a morte do córtex e a morte total do cérebro. A morte do córtex é vista por diversos sinais clínicos e por um eletroencefalograma específico. Não há mais possibilidade de vida consciente e relacional: as células cinzentas estão necrosadas. Mas ainda resta uma possível vida vegetativa autônoma. Na França fala-se com frequência do coma prolongado ou do estado vegetativo crônico. Ao contrário, quando ocorre a morte total do cérebro (córtex e tronco), além de sinais clínicos específicos, como a ressonância magnética ou tomografia. Não há mais vida autônoma possível, mesmo vegetativa. Se desligados os aparelhos cardiorrespiratórios, a vida para totalmente. Muitos falam do coma excessivo ou da morte neurológica.
Na realidade existem aqui duas questões diferentes: a definição da morte e os critérios empíricos da determinação do momento da morte. A primeira é de ordem filosófica e cultural; a segunda é de ordem médica e técnica. Se a segunda deve ser encaminhada aos biólogos e médicos, seja para determinar os critérios ou sinais da morte, seja para constatá-la empiricamente, a primeira merece um debate público.
Quando, então, há a morte da pessoa? O fim da atividade do córtex (o fim de toda a possibilidade de atividade do córtex) é seguramente um critério importante. O ser humano é específico em função da sua atividade cerebral: o córtex serve de suporte à consciência, à liberdade, à afetividade, à comunicação e, portanto, à história pessoal. Mas, pode salientar-se tanto este único critério? Não é cair num certo dualismo? A vida biológica não é, também, a vida da pessoa? Assim, apesar do peso da opinião precedente, muitos preferem dizer que a morte da pessoa tem lugar com a paralisação de toda a vida cerebral, de toda a possibilidade de vida cerebral e, portanto, com a morte da totalidade do cérebro (córtex e tronco).
Na realidade esta questão parece insolúvel, não por ser fundamentalmente de natureza filosófica (e neste nível não há consenso social), mas porque ela revela uma abordagem sintética da morte. Com efeito, exprime-se como se a morte fosse um ato instantâneo, esquecendo que ela é verdadeiramente um processo.
Ademais, talvez haja lugar para se distinguir o plano ético e o sócio jurídico. Qualquer um pode julgar que a pessoa morreu quando a atividade no córtex se tornou impossível. Mas, socialmente e juridicamente, é mais prudente e justificável reconhecer-se o fim da pessoa usando como critério a morte total do cérebro.