No dia 19 de dezembro de 2018, às 19h30, na Igreja Matriz da Paróquia Sagrada Família, em Governador Valadares, Dom Félix presidiu a Missa em Ação de Graças pelo Jubileu de Prata Presbiteral dos padres Carlos Neiva, Geraldo Carvalho, José Gonsalves (Juca), Marcos Romão, Paulo Ribeiro, Sebastião Carmo e Leni Silva (in memoriam).
A Missa contou com expressiva participação de padres, diáconos, seminaristas e fiéis de várias paróquias de nossa Diocese, além de padres da Diocese de Caratinga, colegas dos jubilandos.
No final da Missa, Pe. Geraldinho fez um belo discurso em nome dos padres jubilandos e Pe. Nelito, com poucas e sábias palavras, parabenizou os jubilandos em nome do Clero da Diocese.
























Leia abaixo o Agradecimento de Padre Geraldinho
AGRADECIMENTO POR OCASIÃO DO JUBILEU DE PRATA SACERDOTAL DOS PADRES: CARLOS NEIVA, GERALDO ANTONIO, LENI SILVA, JOSÉ GONÇALVES, MARCOS ROMÃO, PAULO RIBEIRO E SEBASTIÃO CARMO
Excelentíssimo D. Félix, nosso pastor, caros irmãos no sacerdócio, prezados diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas, autoridades civis e militares, queridos irmãos leigos e leigas, enfim, nós que em torno deste altar formamos uma assembleia de batizados.
Estamos em festa. Aliás, não existe povo na face da terra que não tenha festas. “A vida é um pouco de sonho, um pouco de ilusão e um pouco de festa”. A festa possibilita uma quebra em nossa rotina diária. Possibilita um período de repouso. A festa favorece o fortalecimento dos nossos vínculos, tão superficiais em nossos dias. Ela nos faz pensar que não devemos ser escravos do ativismo.
Com esta celebração, comemoramos o nosso jubileu de prata sacerdotal. A palavra comemorar quer dizer: Trazer à memória, recordar, lembrar, não deixar morrer tal História. Na liturgia fazemos muito isto. A celebração de hoje nos faz pensar sobre a origem da nossa vocação. Não cair no esquecimento. Não esquecer o que Deus fez por nós. Interrogar: De onde viemos? Lembrar nossos pais, avós, familiares, lembrar os antepassados. Lembrar aqueles que conservaram e transmitiram esta fé fazendo com que ela chegasse até nós. Não esquecer nossas fontes, origens, raízes. A memória da nossa vocação reaviva nossa fé. Relembrar o momento, o quando e o onde nós concebemos a nossa vocação como um projeto que iria mudar a nossa vida para sempre. No entanto, os 25 anos de sacerdócio não devem reduzir-se a uma simples comemoração histórica. Não é ocasião para erigir um memorial. O jubileu não é a celebração da nossa grandeza e de nossos sucessos. Mas, sim, a celebração das bênçãos de Deus concedidas ao longo destas duas décadas e meia de serviço, que, apesar dos percalços e fraquezas humanas, com a proteção divina, conseguimos alcançar esta marca simbólica da nossa caminhada sacerdotal.
Celebrar esta marca é ocasião para fazermos uma auto crítica da nossa missão. Reorientarmos a nossa vocação, uma vez que ninguém está formado hoje. Pensar no que significa ser padre no mundo atual. Este é momento propício para lançarmos um olhar para o passado, para o presente, bem como para o futuro.
Olhando para o passado, em primeiro lugar, agradecer a Deus pelo dom da vida. Agradecer aos nossos pais que nos ensinaram os primeiros passos e nos transmitiram a fé cristã. Agradecemos a D. José Heleno, que, exatamente há 25 anos, nesta casa de Deus, neste mesmo presbitério, nos conferia a ordenação sacerdotal, acolhendo-nos nesta diocese. Agradecemos aos bispos sucessores de D. Heleno, D. Werner e especialmente D. Félix com o qual procuramos dar prosseguimento a nossa vocação. Agradecemos aos irmãos no sacerdócio que nos ajudam no aprimoramento da missão. Uma palavra de agradecimento aos nossos irmãos diáconos, religiosos, religiosas, e, é claro, não nos esquecendo dos nossos prezados leigos e leigas, estes que sem dúvida alguma são a grande maioria da nossa Igreja. Muito obrigado a todas as pessoas que se empenharam e se deslocaram para que neste momento pudéssemos alimentar na Palavra de Deus, no Sacramento da Eucaristia, bem como no nosso encontro de irmãos e irmãs. Muitíssimo obrigado mesmo ao ministério Trindade Santa que se prontificou desde o início a celebrar conosco se encarregando da cantoria. Lembramos aqui aquelas tantas pessoas que marcaram a nossa vocação e que já fizeram a sua páscoa definitiva, como, por exemplo: D. Hermínio, nosso primeiro bispo, D. José Moreira, Pe. Pedro Crisólogo, Frei Roberto, Mons. Levy, Pe. Lucas e não podemos deixar de lembrar o incansável Pe. Floriano que por ocasião da nossa ordenação estava de pilha nova preparando esta igreja para a realização daquela celebração. Lembramos aqui muitos dos nossos pais que nos transmitiram a vida e hoje já se encontram nos braços amorosos do Pai. Recordamos o nosso já saudoso Pe. Leni Silva que ainda ontem fizera a sua última viagem. Às 16 horas em ponto, com a Matriz de Santo Antônio em Naque repleta de fiéis, com a presença de vários padres e seminaristas, D. Félix, nosso bispo diocesano, presidiu a missa e os ritos de exéquias. Segundo o pensador alemão, Albert Schwetzer, “a tragédia não é quando um homem morre. A tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ainda se vive”. O problema não é morrer. O problema é não viver. Ou seja: É viver uma vida mesquinha, medíocre, pela metade e sem sentido. Pe. Leni era a simplicidade em pessoa. No final da caminhada terrestre não nos espera o naufrágio. Os primeiros cristãos diziam que “o cristão não morre. E sim, nasce duas vezes. Ou seja: Ele nasce para nunca mais morrer. Ele morre para viver de modo imortal”. Pe. Leni, seus esforços não foram inúteis. Descanse em paz, meu irmão! Não podemos deixar de agradecer aquelas paróquias onde já trabalhamos como padre e sobretudo as paróquias onde atualmente estamos exercendo o nosso ministério.
Olhando para o presente, nós não estamos vivendo num mundo angelical. A era da cristandade acabou. Alguém, para explicar este tempo, recorreu à metáfora “luzes e sombras”. O mundo atual é plural, policêntrico e planetário. Vivemos uma época de profundas crises que atingem o cerne das nossas instituições. Tudo hoje é medido pela lógica do chamado ‘custo-benefício’. Outros falam do mundo dos excessos. São tantas as propostas. São tantas as ofertas. Hoje, você não tem desculpa de não fazer tal coisa porque não teve acesso. Antigamente a pessoa não lia a Ética de Aristóteles porque não tinha acesso. Hoje eu tenho acesso a tudo o que presta e o que não presta. Aliás, eu não consigo acessar a tudo o que tenho “à disposição”.
O homem hoje é secularizado, racionalista, muitas vezes fascinado pelo poder da ciência e focado no seu próprio umbigo. Há uma volta para o religioso, sim, mas para uma religiosidade eclética. Corremos o risco de vivermos uma religião onde há de tudo menos a experiência de Deus. Para outros, Deus simplesmente não é mais visto como horizonte último. Vivemos num tempo marcado pelo consumismo, autossuficiência, enfraquecimento de valores, vazio existencial, época do descartável. Alguns chamam este nosso tempo de época ansiolítica. Isto devido às tantas ansiedades. O homem quer ser Deus. A grande mágoa, a grande revolta do homem, é ele não ser o criador do mundo e de si mesmo. E o pior dessa história toda é que ele tem certeza que não é. Há uma corrida num ritmo frenético e alucinante, cada vez mais crescente, em busca de visibilidade. Há o perigo de vivermos uma religiosidade do aplauso e do sucesso. Neste sentido é bom lembrar São Francisco de Sales: “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”. Uma pessoa feliz não dá problema. Uma pessoa feliz é incapaz de tornar o outro infeliz. Nossa época exige de nós cristãos uma profunda conversão. Do contrário, teremos uma caricatura de Igreja.
Um dos desafios da atualidade é não sabermos muito bem os rumos da História. Onde este mundo vai desembocar. O horizonte está um tanto nebuloso. Alguém perguntou a um conferencista: O Sr. é otimista quanto ao futuro? E o conferencista respondeu: “Eu gostaria de ser”. Uma das marcas do nosso tempo é a não fixação em decisões duradouras. Fatos ocorridos há duas semanas, nomeamos como antigamente. E aí falamos de moderno. Não raro, o moderno também entra em crise e aí falamos de pós moderno. Aliás, o que não é pós hoje? Vivemos a era do hiper e do pós: pós industrial, pós crise, pós Concílio… Tudo hoje é questionado e precisa passar pelo crivo da verificação. Nenhuma resposta é eterna. Daí a sensação de insegurança. Parece mesmo que o espírito do nosso tempo é o sentir-se perdido. Vivemos um tempo marcado pela transitoriedade, pela provisoriedade, por aquilo que é temporário. Vivemos um tempo de desconstrução. A característica que me parece resumir todas as demais é que vivemos certa desorientação. O sociólogo polonês Ziggmund Baum fala de tempos líquidos. Na verdade, parece-me que estamos num tempo mais para gasoso do que para líquido. Tomara que minha percepção esteja equivocada.
Mas, de uma coisa nós temos certeza. Estamos vivendo a época da ciência e da técnica. É a chamada tecnociência. E toda vez que a ciência avança interfere nos pilares da nossa fé. Por outro lado, temos um acúmulo histórico muito grande. Lembrando que lá pelos 1500, a Igreja vivia uma crise fortíssima. Realizou-se o Concílio de Trento nos anos 1545-1563 e colocou a Igreja nos trilhos novamente.
Olhando para o futuro, interrogamos: Como ser padre em meio a este mal estar contemporâneo? De acordo com as propostas de Jesus Cristo, não é fácil ser padre nem no passado, nem no presente e muito menos no futuro. Mas, é bom lembrar que Jesus Cristo, o sacerdote maior, foi coroado com uma coroa de espinhos e não com uma coroa de ouro. É bom tomar cuidado com as facilidades. O preço costuma ser altíssimo. Depois de 2000 anos de Cristianismo, depois de 400 anos da chamada ciência moderna, o mundo continua isto que nós lemos nos jornais todos os dias. Como os fiéis veem os padres? O estilo de vida do padre deve ser o estilo de vida do sacerdote maior, Jesus Cristo. Como era um dia na vida de Jesus? E como é o meu dia? Uma senhora me dizia: Nosso padre não estuda. Porque só dá exemplo das novelas. O Papa Francisco, um homem simples, inteligente, bem humorado, sempre disposto a atender a todos. O padre precisa ser sinal de Deus para as pessoas. Às vezes, a pessoa vem buscar no padre um homem de Deus e acaba encontrando um funcionário, um executivo do sagrado. O Papa Francisco fala de igreja em saída. Mas não é uma saída de qualquer maneira. É uma saída para tornar melhor o nosso entorno. Foi o que fez Abraão, Maria, o apóstolo Paulo, enfim, foi o que sempre fez Jesus Cristo, o nosso referencial maior.
O padre precisa hoje evangelizar com a mente, com o coração, com as mãos, com os pés e com os ouvidos. Um ouvido para ouvir a Palavra de Deus e o outro para ouvir os fiéis. Vivemos um tempo de purificação da fé. O que a Igreja precisa fazer é ser fiel ao Evangelho. Lembrando Cl 2,7, o padre do futuro precisa estar enraizado em Cristo. Fincar suas raízes em Cristo. E não em nenhuma outra pessoa e em nenhuma outra coisa.
Meus irmãos e minhas irmãs, concluindo, que ninguém se sinta ausente dos nossos agradecimentos. Não deixemos que as provações, tribulações e desolações deste mundo roubem a nossa alegria de ser cristãos. Que nós não caiamos na tentação de deixar que o estado de atrofia, de inércia, de petrificação ou de ceticismo invada as nossas vidas! Que Maria interceda dos céus com sua sensibilidade e ternura de mãe as mais copiosas bênçãos sobre o nosso ministério e a nossa Igreja! Muito obrigado a todos!
Padre Geraldo Antônio de Carvalho