“AUXILIUM CHRISTIANORUM ORA PRO NOBIS”
Breve notícia da devoção a Nossa Senhora Auxiliadora e sua relação com o Seminário Diocesano
Ao cruzar os umbrais da Catedral de Santo Antônio, na parte esquerda da nave, deparamos com uma imponente imagem de Nossa Senhora Auxiliadora (FIG: 01): a Virgem em seu braço esquerdo segura nosso Senhor e Salvador e com o outro segura o cetro. Esta singular imagem chama a atenção para sua realeza, que se apoia no senhorio de Jesus. Aproximando a data festiva desta devoção é oportuno falar da relação afetuosa que N. Sra. Auxiliadora tem em nossa Diocese.
A titulação – Auxilium Christianorum, ora pro nobis – foi inserida nas ladainhas loretanas, em 1571, por São Pio V. Esta é a primeira vez na história que o título “Auxiliadora” foi dado oficialmente a Nossa Senhora. O motivo encontra-se na histórica batalha dos cristãos contra o exército dos turcos comandados pelo imperador otomano Selim, que buscava conquistar o Mediterrâneo. Após atacar a Ilha de Chipre, Selim seguia com seus corsários rumo a Europa com a pretensão de transformá-la em seu império. Sabendo dessas pretensões o romano pontífice, Pio V, buscou evitar a conquista dos países católicos da dominação mulçumana (MEGALE, p. 60).
O Papa recorreu as nações católicas para lutarem em defesa da fé cristã contra a dominação maometana. Sem apoio de franceses e de outras potências europeias, que neste contexto estavam desgastadas por lutas religiosas oriundas da reforma, Pio V encontrou apoio somente do Príncipe Dom João da Áustria e Felipe II da Espanha. Estes formaram um exército que inicialmente era menor que o inimigo e, com a bênção do santo padre e a proteção da Virgem, seguiram rumo a batalha, após terem recebido o sacramento da confissão, partindo do porto de Messina (sul da Itália), em 16 de setembro 1571.
Durante a guerra, o papa e parte dos fiéis rezaram à Virgem Maria pedindo seu poderoso auxílio para que os cristãos vencessem a guerra. Saindo vencedores do conflito bélico, os soldados cristãos atribuíram a vitória ao “auxílio” da Virgem Maria. Deste modo, Pio V para agradecer tal milagre atribuiu a Virgem Maria o título de Auxílio dos Cristãos no dia 07 de outubro (MEGALE, 2001, p. 60), sendo a festa inicialmente comemorada nessa data.
Mas a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora tornou-se oficial somente no século XIX. Com a dominação de Roma pelos exércitos de Napoleão Bonaparte, o Papa Pio VII foi deposto e submetido a um duro cárcere pelo imperador francês. Preso, solitário e desamparado, o sumo pontífice “cheio de confiança entregou a causa à Providência Divina, e Maria Santíssima, Mãe de Misericórdia, e fez o voto de fazer uma solene coroação da imagem de Savona” (JUNIOR, 1956, p.274) se sobrevivesse aquela penúria. Com a Batalha de Leipzig, Napoleão enfraqueceu seu poder e com isso foi pressionado libertar o papa do cárcere. Em liberdade, Pio VII dirigiu a Savona e cumpriu o voto feito a Mãe de Cristo. “Finalmente, no dia 24 de maio de 1814, o papa fez sua entrada solene em Roma” (MEGALE, 2001, p. 61).
“Pio VII, atribuindo à Virgem Santíssima, que invocara em seu “Auxílio”, ter podido, enfim, entrar em Roma completamente livre, estabeleceu, em ação de graças, uma festa solene sob o título Nossa Senhora Auxiliadora, e fixou-a para o dia 24 de maio” (ADUCCI, 1998, p. 317).
Desde 1814, a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora tem sido celebrada no dia 24 de maio. Em Portugal, no século XVIII, já há gravuras devotadas a N. Sra. Auxiliadora (JUNIOR, 1956, p.275). Entretanto a devoção chega no Brasil somente com a chegada dos padres salesianos, que tem a devoção como patrona da obra salesiana. Quem inseria devoção em Minas foi o Bispo Dom Lasagna, quando fundou em Cachoeira do Campo (distrito de Ouro Preto/MG) a casa dos padres salesianos (JUNIOR, 1956, p. 275), “a 7 de setembro de 1893” (TRINDADE, 1929, p. 1140). Desde então a devoção espalhou pelo estado e por todo o Brasil.
Em nossa Diocese, nosso primeiro Bispo, Dom Hermínio[2], confiou à Santíssima Virgem, N. Sra. Auxiliadora, o Seminário Diocesano. Este foi fundado em 1960, com sede construída, onde hoje conhecemos como CENTREL. Nesta 1ª fase, o seminário acolheu 64 jovens seminaristas. Os primeiros formadores, vindos do Collegium pro America Latina, foram os padres José Henrique e Lucas Hermaman. Infelizmente por falta de recursos o seminário fechou três anos depois de sua abertura. No ano de 2003, na celebração do ano vocacional o seminário foi reaberto continuando como por padroeira N. Sra. Auxiliadora. Deste então a formação inicial, isto é, o Propedêutico, acontece em Governador Valadares; as demais etapas (Filosofia e Teologia) são confiadas pelo nosso Bispo diocesano ao seminário arquidiocesano de Mariana.
De forma direta e indiretamente Nossa Senhora tem auxiliado nossa Igreja Particular e todos nós seminaristas e vocacionados. Ao celebrar o dia da nossa padroeira roguemos à nossa Mãe que venha em nosso auxílio de nossas pastorais, de nossos clérigos e em especial do nosso Bispo Dom Félix.
Auxilium christianorum, ora pro nobis!
Theófilo Gonçalves de Paula – Pós-graduado em história da arte sacra e bacharel em filosofia pela faculdade Dom Luciano Mendes e aluno do Instituto de Teologia do Seminário Maior São José de Mariana -MG. Possivelmente trata-se de uma devoção pessoal.
Fonte Imagem: https://cleofas.com.br/a-devocao-a-nossa-senhora-auxiliadora