O contato com a Palavra de Deus deve necessariamente ecoar na existência cotidiana. O encontro frequente com as Escrituras gera uma visão que permite compreender e julgar a realidade. Liberta-nos de reducionismos de todos os tipos, livra-nos da tentação de subordinar a acolhida da Palavra de Deus a outros critérios que não seja ela mesma.

Entre a Palavra de Deus e a vida existe uma irrenunciável ligação. A Palavra se destina à vida e a vida encontra sentido na Palavra. Por isso, precisamos aprender a estabelecer essa contínua relação com o texto bíblico, trazendo-o para a vida e apresentando a vida à Palavra de Deus. Esse caminho de mão dupla é sempre feito sob o impulso do Espírito Santo. É ele que abre nossos corações à Palavra e à conexão da Palavra com a vida. É ele que nos ajuda a encontrar luz para nossos passos nos âmbitos pessoal, comunitário, social e ambiental. Para todos esses âmbitos a Palavra de Deus é luz que não podemos apagar.

Por certo, devemos reconhecer que, ao entrar em contato com a Palavra de Deus, não deixamos de lado nossas compreensões da vida e as opções que vamos fazendo dia após dia. Sempre acolhemos a Palavra de Deus a partir do que somos e de onde estamos. Por isso, ao mesmo tempo em que assumimos nossa identidade, precisamos estar atentos para que o peso dessa identidade pessoal, social e cultural não seja excessivo e acabe por não deixar que a Palavra de Deus seja de Deus mesmo, isto é, que não seja a nossa perspectiva a predominar sobre a Palavra.

Um dos melhores caminhos para que isso não aconteça é o retorno contínuo ao mesmo texto, fazendo isso tanto em nível pessoal quanto comunitário. Esse retorno ao mesmo texto, com abertura de coração para ver a riqueza ali presente, com o esforço de buscar no texto outras perspectivas até então não percebidas, faz-nos semelhantes àquele mestre da lei que tira do seu baú coisas novas e antigas.

Fonte: CNBB