Assim se expressou, certa vez, o teólogo Von Balthasar: “Em todas as culturas não cristãs a criança tem uma importância somente marginal, porque é simplesmente um estado que precede o homem adulto. Foi necessária a Encarnação de Cristo para que pudéssemos ver não só a importância antropológica, mas também aquela teológica e eterna do nascer, a bem-aventurança definitiva do ser a partir de um sinal que gera e dá à luz”.
Há quem preferem apresentar a hipótese que “o sentimento da infância” surgiu apenas na metade do século XVI. Não há dúvida que, no Ocidente, por um grande período, a criança esteve na periferia, e uma mais breve, porém igualmente rica e significativa fase (que abraça aproximadamente os três últimos séculos da história do Ocidente), na qual a criança foi colocada no centro da família e, de alguma maneira, de toda a vida social. Este foi o tempo da “puericultura”, que talvez esteja consumando-se aos nossos olhos pelo efeito de um desenvolvimento tecnológico sempre mais avançado dentro do qual parece não existir lugar para a criança. É preocupante que a técnica estrague as relações pessoais e que conte mais a tecla que se chama “sociedade digital” do que a aproximação das pessoas a uma criança.
Na educação estima-se mais a inteligência do que a inteira personalidade. O encontro com a tecla do computador ou dos jogos eletrônicos toma o lugar do encontro com as pessoas. O fenômeno que Campanini caracteriza como “perda do centro” leva à perda dos pontos de referência relativos aos valores fundamentais, sobretudo éticos e religiosos, enquanto surge outro quadro de “valores”. O computador pode ser um campo aberto à fantasia, a uma fantasia programada e pré-codificada, porém a criança está no meio de um mundo onde “seu mundo vital” reduz-se. Verifica-se a destruição das estruturas fundamentais de mediações. A principal delas é a família, no seio da qual no passado se adquiria a maior parte dos conhecimentos. A própria escola abre mais e mais espaço à “informação” fornecida pela máquina. Poderá a família e a escola deixarem de ser os núcleos de proteção? Sobre o tema das mediações sociais e família retornaremos mais adiante.