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Família: Dom para a Sociedade – 2ª Parte

Família: Dom para a Sociedade – 2ª Parte

Não são fáceis e transparentes as relações entre a família e a sociedade, através do Estado. E isto por vários aspectos. O Estado invade campos que antes estavam reservados à família. E, enquanto a democracia abana a bandeira do respeito e da participação, a família se vê cada vez mais colocada num espaço menor, onde dificilmente respira, e sente-se acusada e provocada. O poder do Estado torna-se onipotente. De alguma maneira o movimento de privatização, no âmbito da intimidade, bem pode representar uma forma de fuga, e refúgio, em relação aos compromissos que a família tem com a sociedade. Paolo Donati indica que “a família torna-se, sob o ponto de vista ‘psicológico’, uma forma particular de convivência, de comunicação privatizada e ‘subjetivada’, de pura manifestação de intimidade e afeto, que não deve incidir, de modo significativo, senão por outras razões de retardo social e cultural”.

É este um fenômeno complexo, pois no mundo de ‘fora’ precisa-se produzir e lutar para viver. É o mundo da competição econômica e dos conflitos políticos. Em troca, o mundo familiar pode parecer, em oposição à sociedade, o lugar do privado: aquele da relação humana verdadeira. A intimidade como refúgio diante da sociedade ameaçada, ou diante do próprio Estado hostil, diante de uma sociedade que gera pena, seria o lugar da autenticidade, da verdade e da paz. Curiosamente a cidade atrai, mas às vezes produz desafeição, moléstias. Essa concepção da privatização, que tira da família sua função diante da sociedade, pode mascarar-se em todos os tipos de razões e comportar atitudes individualistas, egoístas, de desinteresse. Objetivamente, isso é um ato de irresponsabilidade. O fugir do perigo não é afrontá-lo e, quem se satisfaz com o fugir da sociedade, chega a ser objetivamente cúmplice da degradação que atinge a sociedade.

Refugiar-se no privado e não opor-se, é uma tentação que facilita a ambição do novo domínio do Estado, que termina não só por não reconhecer na família algo de “soberano”, anterior ao próprio Estado, mas por isolá-la na impotência de quem não tem mais força.

É legítima, também, a preocupação de Campanini: “A moral familiar não tem, como exclusivo âmbito de exercício, as paredes domésticas. Existe, da parte da família, o preciso dever de concorrer à humanização da sociedade e à promoção do homem. Precisamente porque é, enquanto estrutura, ponto de encontro entre o público e o privado, a família não pode isolar-se na sua própria intimidade (que, entendida privadamente, seria falsa e deformada), mas que ela é chamada a assumir os problemas da sociedade que a circunda. Nas sociedades industriais avançadas, caracterizadas por uma forte incidência da esfera pública na vida familiar, a instauração desta relação aparece como condição quase que necessária para o mesmo cumprimento correto da missão educativa”.

Fonte: Artigo sobre “Família: Dom e Compromisso, Esperança da Humanidade” do Cardeal Alfonso Lopez Trujillo.
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