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A Palavra de Deus e a Teoria da Prosperidade – 1ª Parte

A Palavra de Deus e a Teoria da Prosperidade – 1ª Parte

Não é muito difícil encontrar interpretações da Bíblia centradas exclusivamente na busca de saúde física, satisfação afetiva e prosperidade material; tudo isso justificado por uma atitude de troca com Deus, que deve se manter fiel ao ser humano, que lhe entrega seu tudo, a oferta da viúva. Essa perspectiva, presente também em alguns círculos católicos, fere o amor gratuito de Deus, que faz chover igualmente sobre todos, merecedores ou não. Geralmente, essa proposta é vinculada à ideia de bênção divina presente no Antigo Testamento, distanciando-se da ética e da teologia da Cruz assumidas por Jesus Cristo.

Certamente, saúde, amor e dinheiro são coisas importantes na vida das pessoas. Deus quer que toda pessoa viva saudável, feliz, com dignidade, se sustente com o suor honesto do seu trabalho e se empenhe por uma sociedade onde haja condições de vida digna para todos. Essa, portanto, é uma ideia distorcida de tudo que a Palavra de Deus nos quer transmitir, pois torna o Deus da Palavra uma espécie de marionete nas mãos de quem, pela atitude de troca, se considera fiel e apto a exigir benefícios de Deus. Essa atitude não gera pertença a uma comunidade eclesial, estimulando até mesmo a contínua migração religiosa, em busca de maiores facilidades, onde quer que estejam.

Nesse caso, a religião passa a ser vista como uma espécie de loja, onde as pessoas indicam o que querem e o funcionário, no caso, o próprio Deus, as atende, desde que, como bons consumidores, arquem com os custos. A noção de vida eterna cai por terra; a centralidade da pregação está no ser humano, que nem precisa preocupar-se com conversão. Manipulando-se a Palavra de Deus, busca-se, na “Igreja”, o que não se vai levar quando se partir dessa vida. Ecoa, assim, em nossos ouvidos as advertências de Jesus na parábola de Lázaro e do rico epulão, ou no episódio do homem rico, ou suas orientações sobre o tipo de tesouro que deve ser acumulado.

O esquecimento dos irmãos e irmãs mais fragilizados se traduz na indiferença em relação aos pobres e sofredores. Como essa é uma atitude oposta a tudo o que a Bíblia ensina, é importante que nos perguntemos como é possível que alguém, tendo contato com a Bíblia, seja capaz de praticar a indiferença e mesmo a violência. A resposta inicial nós a conhecemos: o pecado, agindo em nós, é capaz de tudo, inclusive de nos levar a compreensões da Palavra de Deus que estão em oposição com a misericórdia e a bondade do Deus da Palavra. Por isso, é tão importante ter atenção diante das mensagens e das leituras individualistas e consumistas da Bíblia, ou seja, compreensões que levam a pensar somente em si mesmo e no aumento do patrimônio. Por certo, o misericordioso Deus da Palavra ama a todos e não quer o sofrimento nem a penúria de ninguém. A certeza desse amor não nos pode levar, entretanto, a leituras egoístas e interesseiras da Palavra de Deus.

Por Dom  Félix – Bispo Diocesano
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