Recentemente a humanidade sofreu muito com a pandemia e agora sofre com a guerra na Ucrânia e com tantas outras guerras, que têm produzido morte e destruição. Quantos pobres gera a insensatez da guerra! Para onde quer que voltemos o olhar, constata-se como os mais atingidos pela violência sejam as pessoas indefesas e frágeis. Deportação de milhares de pessoas, para desenraizá-las e impor-lhes outra identidade. Milhões veem-se constrangidos a desafiar o perigo das bombas para pôr a vida a salvo, procurando abrigo como refugiados em países vizinhos.
Neste contexto tão desfavorável, situa-se o 6º Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no próximo dia 12 de novembro, com o convite para mantermos o olhar fixo em Jesus, que, “sendo rico, Se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza” (2 Cor 8, 9). Na sua visita a Jerusalém, Paulo encontrara Pedro, Tiago e João, que lhe tinham pedido para não esquecer os pobres. De fato, a comunidade de Jerusalém debatia-se com sérias dificuldades devido à carestia que assolara o país. Paulo preocupou-se imediatamente em organizar uma grande coleta a favor daqueles pobres. Os cristãos de Corinto mostraram-se muito sensíveis e disponíveis. Por indicação de Paulo, em cada domingo recolhiam quanto haviam conseguido poupar e todos foram muito generosos.
Paulo não hesita em afirmar que esta opção de Cristo, este seu “despojamento”, é uma “graça” e só acolhendo-a é que podemos ser coerentes com a nossa fé. Com efeito, a solidariedade é precisamente partilhar o pouco que temos com quantos nada têm, para que ninguém sofra. Quanto mais cresce o sentido de comunhão como estilo de vida, tanto mais se desenvolve a solidariedade e se supera a indiferença em relação aos pobres e sofredores.
Porém, não se trata de ter um comportamento assistencialista com os pobres, mas de se empenhar pela promoção humana dos pobres e pela erradicação das causas da pobreza. Não basta a caridade fraterna; é preciso a caridade social e política.
Estamos diante dum paradoxo: de acordo com Paulo há uma pobreza que nos torna ricos. A mensagem de Jesus mostra-nos o caminho e faz-nos descobrir a existência duma pobreza que humilha e mata e de outra pobreza – a d’Ele – que liberta e nos dá serenidade.
A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos; é a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspectivas nem vias de saída.
A pobreza que liberta é a que se nos apresenta como uma opção responsável para apostar no essencial, a exemplo de Jesus. Ele, por amor, despojou-Se a Si mesmo e assumiu a condição humana. Por amor, fez-Se servo obediente, até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 6-8). Por amor, fez-Se “pão de vida” (Jo 6, 35), para que a ninguém falte o necessário, e possa encontrar o alimento que nutre para a vida eterna.
Seguir a pobreza de Cristo é partilhar a vida por amor, repartir o pão da própria existência com os irmãos e irmãs, a começar pelos últimos, por aqueles que carecem do necessário, para que se crie a igualdade, os pobres sejam libertos da miséria e os ricos sejam libertos da vaidade, ambos sem esperança.