Na Encíclica há uma continuidade quanto à doutrina, que é fiel ao Magistério da Igreja, mas há uma novidade quanto à abordagem pastoral, pois é caracterizada por misericórdia, paciência e acolhimento em relação às famílias feridas.
Deve ser estudada, em primeiro lugar, pelo clero, mas também pelos seminaristas, candidatos ao diaconato permanente, religiosos, religiosas e agentes de pastoral leigos, sobretudo os da Pastoral Familiar, do ECC, do MFC, do Cursilho e da RCC.
Ela reflete os Sínodos sobre a Família no contexto da nova Evangelização; por isso, pede que as famílias sejam acolhidas no seio da Igreja, na situação em que se encontram. E o Papa coloca as medidas pastorais nas mãos do Bispo com o Clero.
Acolhe as propostas do Sínodo sobre a Família, que usou nova metodologia que possibilitou mais participação nos grupos de trabalho por idiomas e mais intervenções espontâneas dos delegados. Ensina que a Evangelização da Família exige discernimento caso a caso, acompanhamento e integração dos casais em situação de ferida.
É preciso não fazer uma leitura parcial, apressada e preconceituosa da Encíclica nem desconsiderar as diversas situações das famílias, pois ela não impõe nova norma canônica, mas propõe um modo de acolher, com misericórdia e paciência, as famílias.
Manifesta esperança na família e mostra a beleza do matrimônio. Ensina que a família não é problema, mas uma fonte de oportunidades. Vê o matrimônio e a família como um dom para a santificação do casal e da família e não como um fardo pesado a ser tolerado ou rejeitado. É preciso ter o olhar do garimpeiro e não o olhar do urubu.
Ensina que não devemos fazer tudo do mesmo modo, mas tratar caso por caso, com misericórdia e bom senso. Ninguém deve ser condenado para sempre, pois nem toda pessoa que vive em situação irregular ou de ferida está em pecado mortal.
O Papa não muda a doutrina do matrimônio e da família, mas dá espaço ao julgamento com misericórdia das situações de ferida. Muda o foco do jurídico para a pessoa. Passa de uma moral de normas gerais (moral de princípios) para uma moral da situação. Pede o acompanhamento da família ferida com discernimento e misericórdia, visando à formação de consciência e sua integração na comunidade eclesial.
A evangelização da família não pode ser comparada a um hospital de campanha, pois é preciso tratar os feridos, primeiro, mas sem descuidar dos sadios. Isso exigirá dos agentes da pastoral familiar (clero e leigos): acompanhamento, capacidade de escuta, disponibilidade de tempo, paciência, amor; evitar acúmulo de serviço administrativo, comodismo, despreparo doutrinal e metodológico. É preciso preparar melhor os jovens para o matrimônio e acompanhar os casais novos e os casais em segunda união.