HOMILIA DA ORDENAÇÃO PRESBITERAL DE DANIEL E PEDRO
Amados irmãos e irmãs na graça do santo batismo, amados irmãos no ministério ordenado, distintas autoridades, religiosos/as, seminaristas, familiares dos ordinandos, caros diáconos Daniel e Pedro!
Estamos para ordenar padre estes nossos filhos espirituais, que com satisfação vocês contam entre seus parentes ou amigos. Considerem, pois, com atenção, o cargo ao qual eles serão elevados na Igreja, hoje!
O Salmo 22 nos ensina que o Senhor é o Pastor que nos conduz; por isso, não nos falta coisa alguma. Mas é preciso que nos deixemos ser conduzidos por Ele. Como “peregrinos de esperança” devemos caminhar no Senhor e com o Senhor, unidos em comunidade, como irmãos e irmãs, deixando-nos conduzir por Ele, pela Sua Palavra, pelo Seu Espírito. Também o padre é chamado a ser pastor para os fiéis, a cuidar deles com amor fraterno. Mas, em relação ao Senhor, Pastor e Mestre, o padre continua sendo apenas servo, ovelha e discípulo – como os demais fiéis.
No Evangelho, Jesus afirma que, “assim como o pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”. Mas como? Guardando seus mandamentos, amando-nos uns aos outros. Embora sejamos seus servos e Jesus o nosso Senhor, Ele nos trata como amigos e confidentes, e nos envia em missão para fazer tudo o que Ele fez e ensinou: anunciar e instaurar o Reino de Deus: no coração das pessoas, nas relações humanas e nas estruturas da família, da Igreja e da sociedade.
Assim como o Apóstolo Paulo, na primeira leitura, o padre não deve desanimar no exercício do ministério que recebeu da misericórdia divina e que ele traz como um tesouro em vaso de barro. Para que isso aconteça, o padre deve se apresentar como servo de todos, a exemplo de Jesus e por causa de Jesus. Rejeitar todo procedimento dissimulado e indigno, feito de astúcias. E jamais falsificar a Palavra de Deus, pois o padre não deve pregar a si mesmo, mas Jesus, o Senhor, a Palavra de Deus encarnada.
Daniel escolheu como lema para sua vida presbiteral: “O amor de Cristo nos impele” (2 Cor 5, 14). Mas nos impele a quê? A amar como Ele nos amou, a ponto de passar a vida fazendo o bem a todos e de entregar a Sua vida por nós na Cruz. Nos impele a servir a todos, especialmente os necessitados, tanto nas coisas espirituais como nas coisas materiais, tanto as pessoas quanto as instituições, sobretudo aquelas que se dedicam a por em prática o amor de Jesus cuidando dos pobres, enfermos, abandonados, sofredores, os descartados de nossa sociedade materialista e secularizada.
O tema “O amor de Cristo nos impele” (2 Cor 5, 14) é um convite à reflexão sobre o impacto do amor de Cristo em nossa vida e como isso nos motiva a agir. O amor de Cristo é apresentado como uma força motivadora que nos impele a agir de acordo com Sua vontade e a servir aos outros. Essa passagem está relacionada à morte e ressurreição de Cristo, que são vistas como um ato de amor extremo por parte de Deus. A reflexão sobre o amor de Cristo nos impele a considerar como podemos viver de forma que Cristo seja o centro de nossa vida. Também nos chama a servir e amar ao próximo, especialmente aqueles que precisam de nossa ajuda e apoio. Só o amor de Cristo pode transformar nossa vida, mudando nossa perspectiva e nos motivando a viver de forma mais autêntica e significativa.
Pedro escolheu como lema para a vida presbiteral: “Basta-te minha graça” (2 Cor 12, 9). Essa convicção é de fundamental importância para nossa vida cristã, sobretudo para a vida do padre. A graça de Deus é suficiente. A força de Deus se manifesta em nossas fraquezas e não nas nossas capacidades. Assim, o padre, mais do que qualquer outra pessoa, precisa cultivar a humildade e o reconhecimento da total dependência de Deus. Ele exerce um ministério do qual não é digno e que está muito acima de suas capacidades humanas, por maiores que elas sejam. Por isso, ele não pode ser autossuficiente e autorreferencial, pois sempre precisará de Deus, o único que deve estar no centro de sua vida e de seu ministério.
O tema “Basta-te minha graça” (2 Cor 12, 9) é um convite à reflexão sobre a suficiência da graça de Deus em nossa vida. A reflexão sobre a graça de Deus nos ajuda a entender que a força de Deus se manifesta em nossas fraquezas, e que não precisamos confiar apenas em nossas próprias capacidades. O tema nos convida a confiar em Deus e na Sua graça, em vez de confiar apenas em nossas próprias forças e habilidades. A graça de Deus nos ajuda a cultivar a humildade e a dependência de Deus, e a reconhecer que somos limitados e que precisamos da Sua ajuda, pois somente Deus pode nos trazer paz e consolação, sabendo que Ele está sempre conosco e nos sustenta nos momentos de dificuldade.
Não poderia encerrar essa minha modesta e despretensiosa reflexão, sem me referir às 4 colunas que sustentam a vida presbiteral, conforme nos ensinou o Papa Francisco. Trata-se, na verdade, de 4 proximidades na vida do padre: com Deus, com o Bispo, com o Clero e com o Povo.
Proximidade com Deus. O padre não pode descuidar da sua vida espiritual. Precisa cultivá-la constantemente, fazendo profunda experiência de Deus, através da Liturgia das Horas, da Reza do Terço, da meditação diária da Palavra, da piedosa celebração da Missa, da confissão e direção espiritual frequentes, da condução pastoral dos fiéis.
Proximidade com o Bispo. Padre e Bispo devem ser amigos. O bispo deve ser um pai para o padre, mas o padre precisa ser um filho para o bispo. É recíproco, porque, com muita frequência, cobra-se muito do bispo uma atitude paternal, mas não se tem para com ele atitude filial. A convivência entre padre e bispo deve ser de harmonia e mútua cooperação, não de contestação ou indiferença.
Proximidade com o Clero. Os padres precisam manter entre si relações fraternas, sem ciúmes, competição, desconfiança, fechamento, indiferença. O clero deve ser a segunda família do padre, depois da sua família de sangue. A fraternidade presbiteral há de ser cultivada, sempre. E é responsabilidade de todos os padres, e não tanto do Bispo.
Proximidade com o Povo. O padre é ordenado para ser pastor da porção do rebanho de Deus que lhe for confiado, segundo o Coração de Jesus. Ele precisa ter o cheiro das ovelhas e estas também precisam ter o cheiro do pastor. Daí a necessidade de o padre estar sempre próximo do povo, de participar intensamente da vida das famílias, de conviver de perto com crianças, jovens, adultos e idosos, de visitar com frequência os pobres, os enfermos, os encarcerados, os hospitalizados, os internados em casas de recuperação, de ter atenção para os que não têm teto nem família.
Permitam-me dirigir agora diretamente aos diáconos Daniel e Pedro. Como Padre vocês são chamados a ser Pai, Pastor e Amigo. Quando se diz que o Padre é chamado a ser Pai, Pastor e Amigo está se referindo às diferentes dimensões do seu ministério e à forma como ele se relaciona com a comunidade que serve. O Padre é visto como uma figura paterna, que cuida e protege a comunidade eclesial, oferecendo orientação e apoio espiritual. Ele é chamado a ser um modelo de amor e cuidado, refletindo o amor de Deus Pai. O Padre é um pastor que cuida do rebanho de Deus, que lhe foi confiado, guiando a comunidade em sua jornada espiritual. Ele é responsável por alimentar a fé dos fiéis e garantir que estes estejam bem cuidados espiritualmente. O Padre é também chamado a ser um amigo, que se relaciona com a comunidade de forma próxima e pessoal. É chamado a ouvir, aconselhar e apoiar os fiéis em suas necessidades e desafios.
Meus caros diáconos Daniel e Pedro, procurem por em prática os ensinamentos das leituras que escolheram para a Missa da sua Ordenação Presbiteral e do lema que escolheram para nortear sua vida presbiteral. E tenham sempre diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir, buscar e salvar o que estava perdido. Amém. Assim seja!