O olhar de Jesus se encontra com o olhar de Pedro (Lc 22,61)

Lucas é o único evangelista que descreve o olhar de Jesus voltado a Pedro, imediatamente após sua negação. Este episódio transcende um simples reconhecimento visual, ele expressa um ato profundo de misericórdia que conduz o apóstolo a um arrependimento sincero. Esse olhar não é de desprezo, mas convite ao arrependimento e à renovação espiritual. Pedro, ao recordar as palavras de advertência de Jesus, é confrontado, não apenas com sua própria infidelidade, mas com a profundidade do amor e da misericórdia de Cristo.

A narrativa de Lucas destaca que a transformação de Pedro é provocada pelo olhar compassivo de Jesus que, mesmo diante da negação, oferece nova esperança. Esse olhar divino guia Pedro de volta à fé, marcando-o profundamente e iluminando o drama da infidelidade e do medo. Jesus conhece a fraqueza de Pedro e o vê com compaixão. A angústia do discípulo, consciente de seus limites e do amor a Deus, ecoa os termos do discipulado exigidos por Jesus: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega até da própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Assim, a centralidade do amor a Deus, expressa em “amarás com toda a tua alma e com toda a tua força” (Dt 6,4-5), é apresentada como fundamental para a salvação.

Pedro deve ter se lembrado de suas experiências anteriores: o primeiro encontro na barca, a transfiguração, os momentos de compaixão e misericórdia ao lado de Jesus, quando na barca Jesus acalmou o vento e o mar e as orações em comunhão com o Pai. Ele conhecia bem o olhar de Jesus, que era de caridade e verdade, e nunca de desprezo.

A experiência de Pedro não é apenas um testemunho da vulnerabilidade humana, mas é o descortinar da poderosa, profunda e existencial graça divina. Esse é um paradigma humano: chamados à conversão, à renovação pelo olhar compassivo de Deus, encontrar a verdade e a beleza inerentes à imagem divina no ser humano.

(13ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).