O olhar divino revela um Deus que, conhecendo as dificuldades humanas, convida à conversão, à caridade e à verdade. Na misericórdia, encontra-se o remédio de salvação e a restauração da relação com Deus. Na cruz, Jesus continua a olhar a humanidade com amor, suplicando ao Pai perdão pelos maus tratos sofridos. Esse gesto redentor reflete a missão de Jesus, que é buscar e salvar o que estava perdido.

A ótica da infinita misericórdia de Jesus provocou lágrimas de arrependimento em Pedro, que não conseguiu se desviar dos olhos daquele que acabara de negar. Jesus é o pastor que encontra a ovelha perdida e o pai que encontra o filho pródigo. Esse amor salva e prepara recomeços por meio do perdão em forma de festa e celebração.

Pedro deve também voltar o seu olhar para Jesus para não deixar de reconhecer a imagem divina nele. E, consciente de sua negação e vulnerabilidade, ser recriado pela misericórdia de Deus. Quem faz tal experiência não pode se esconder como Adão e Eva o fizeram no Éden. Ao contrário, é impelido a voltar-se a Deus o quanto antes.

Portanto, o olhar de Jesus recria a humanidade, restaura a boa e bela imagem de Deus em cumprimento à promessa de que, pela perseverança, a vida será salva. Desta forma, o entrever divino, impregnado de compaixão, ainda revela a real identidade da pessoa, como no princípio. Assim, Pedro pode falar e agir com poder concedido por Deus, pois experimentou Sua misericórdia, tanto no chamado à pesca (Lc 5,1-11) quanto na negação (Lc 22,61).

Assim se compreende a fala anterior de Jesus sobre sua intercessão por seu amigo para que sua fé não desfalecesse. Tal gesto foi fundamental para que Pedro, mesmo após experimentar a fraqueza humana, pudesse se converter e confirmar seus irmãos na misericórdia divina e, arrependido, recordar-se da abundância de graça disponível na casa do Pai, pois nela até os empregados têm pão com fartura.

(14ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).