/
/
“A Eucaristia é a maior riqueza espiritual da Igreja”

“A Eucaristia é a maior riqueza espiritual da Igreja”

  1. Caráter antropológico da Eucaristia como refeição

Para falar da Ceia Eucarística é preciso compreender que toda refeição é um ato humano, mas que não se restringe à saciedade, além de ter uma força salvífica.

Estar à mesa é um ato apenas humano, e não dos animais. A mesa expressa o cuidado consigo mesmo e com o próximo. Ela é espaço da ceia, mas também do encontro, das boas relações, da saciedade e do cuidado.

1.1 – A refeição como caráter comemorativo do ser humano

Todo ser humano é convidado a satisfazer pela refeição, pois a refeição é uma expressão significativa de intercomunhão entre as pessoas. As refeições, mais do que apenas satisfazer uma das necessidades básicas do ser humano (matar a fome), são ocasiões de convivência e partilha.

O ser humano costuma sentar-se à mesa apenas com aqueles que lhe agradam ou que são do seu próprio meio, para compartilhar sua história, sua existência junto à existência de quem lhe apraz.

Por isso, a refeição é fonte de vida e produz no ser humano a necessidade de se tornar humanizado pelas relações que ela produz. Por exemplo: diferentemente da sociedade moderna, os índios só comem em grupo, nunca isoladamente.

1.2 – Jesus participa das refeições

Jesus entendeu o valor do estar à mesa com os amigos. Em cada refeição vivida por ele, percebe-se um crescimento humano e espiritual em quem adere seu chamado.

O fato de Jesus sentar-se à mesa para comer indica uma comunhão d’Ele com toda a humanidade. Por isso, Jesus fez questão de tomar refeição com os mais frágeis da sociedade (pobres e pecadores) como anúncio e antecipação do Reino de Deus.

Jesus não apenas sacia a fome física, como na multiplicação dos pães, mas também a fome de sua presença, das suas palavras, a fome espiritual.

As refeições de Jesus não são simples refeições, mas refeições que conduzem à verdadeira refeição: o próprio Jesus, o Pão da Vida (Jo 6, 35). Nesse sentido, Jesus é o Pão da Vida que alimenta quem vai ao seu encontro e deseja saciar-se d’Ele.

Logo, só é possível entender a Ceia Pascal de Jesus (a última Ceia) a partir da compreensão das diversas refeições que Ele tomou ao longo de sua vida terrena.

1.3 – A refeição no contexto teológico-salvífico

Comer é um ato de todo ser vivo, mas o ser humano o dignificou, tornando-o um espaço de saciedade, de comunhão, de partilha e de mútuo crescimento.

A comunhão que Jesus realiza com os seres humanos é uma comunhão salvífica, pois quem participa das refeições com Jesus torna-se o que toma para si, o próprio Cristo.

A refeição, que até então era apenas humana, torna-se salvífica pela entrega do Filho eterno, na última Ceia. Essa entrega de Jesus faz com que a Eucaristia seja de fato a presença real de Jesus.

A refeição de Jesus com os seus discípulos, dom gratuito de uma entrega sem limites, é a manifestação do amor de Jesus pelo seu humano de todos os tempos e torna-se banquete de salvação.

Essa verdadeira memória, vivida e celebrada pela Igreja através da Eucaristia, encontra-se amparada no mistério da vida, paixão, morte, ressurreição e ascensão do Senhor Jesus e envio do Espírito Santo, mistério esse que também se torna mistério de vida de todo ser humano que abraça o seguimento do Mestre.

  1. Caráter salvífico da Eucaristia

A Eucaristia é a maior riqueza espiritual da Igreja, pois ela foi instituída diretamente por Jesus na última Ceia como serviço (lava Pés), comunhão (refeição), partilha (do alimento e da vida, em torno à mesa) e manifestação máxima de amor (cruz), que exige o mesmo amor de quem comunga.

Na última Ceia, Jesus dirige-se aos seus discípulos e diz que o pão é seu Corpo e o vinho é seu Sangue. Esse é o mistério da fé, pois a presença de Jesus torna-se real e operante, embora escondida sob as espécies consagradas.

Jesus, ao assumir a carne, assumiu consigo a nossa humanidade toda e toda a humanidade, menos o pecado (Hb 4, 15). Assim, a ação realizada por Jesus esconde a sua divindade no pão, mas Ele permanece real em espírito, alma e divindade.

As expressões “tomai-comei” e “tomai-bebei” expressam a certeza da entrega de Jesus, da sua doação, por cada ser humano, uma vez que a ceia eucarística atualiza a entrega de Jesus por toda a humanidade na última Ceia e na Cruz, mas também é antecipação real e antegozo do banquete celeste, o banquete da salvação.

Nesse sentido, Jesus é a comunhão sacramental perfeita do Pai e realiza em toda a sua existência terrena a partilha, não só de bens materiais, como pão e peixe, mas também do amor, da dor e da fé no seu Pai. Logo, a vivência cristã da comunhão torna possível a todos que se aproximam da ceia eucarística eficácias salutares.

Por isso, a memória que Jesus solicita de nós não deve ser uma memória vazia ou distante do sentido real, mas uma memória verdadeira e muito real de sua doação na Cruz, por amor, mesmo porque Jesus nos salvou por muito nos amar, e não por muito sofrer. O sofrimento na vida de Jesus foi uma consequência do seu amor. Jesus, ao partilhar a sua vida, não mediu esforços para doá-la por completo; a sua morte de Cruz traduz tamanho amor.

Nossa participação na ceia eucarística requer de nós a partilha da própria vida com os outros, sobretudo os mais necessitados e até os inimigos, superando a divisão, o individualismo, a indiferença e o autoritarismo.

  1. Caráter salvífico da Eucaristia

Compreender a dimensão salvífica da Eucaristia requer autêntica experiência com Cristo e com sua Palavra, pois somente Ele é o Pão da Vida.

O sacrifício de Cristo e o da Eucaristia são um único Sacrifício salvífico.

A Eucaristia é fonte e cume de toda a vida cristã. É o Sacramento da presença de Cristo e comunica à sua Igreja a presença pessoal de Jesus, o seu próprio ser.

Por conseguinte, o sacrifício eucarístico está orientado para a íntima união dos fiéis com Cristo e entre si, por meio da comunhão eucarística (ceia eucarística).

Dom Félix

Compartilhar:

Outros assuntos:

Mais Notícias