É fundamental uma renovação espiritual baseada no serviço e na entrega da vida pelos outros, descartando a lógica do domínio, do medo e do egoísmo. Essa renovada consciência da dignidade da pessoa dada por Deus tem implicações sociais, econômicas e políticas significativas. Afinal, reconhecer o próximo e toda a criação como expressões do amor do Pai, promove compaixão e cuidado, e elimina desprezo e hostilidade. A fé nos chama a usar nossas capacidades divinas para o bem comum e a reafirmar nosso pertencimento à família humana, com respeito e compaixão. Portanto, essa prerrogativa humana favorece a vida social e nos motiva a proteger nossa casa comum.
O encontro de Pedro com Cristo, marcado pela misericórdia, transformou-o numa imagem de esperança. A compaixão de Deus, através do olhar, supera e cura as fraquezas humanas e leva à conversão, como a de Pedro; revela o poder do amor de Deus que ama com entranhas de misericórdia. Sem esse fundamento divino, a esperança enfraquece; e o homem perde sua identidade, caindo no anonimato e na autodestruição.
Em outras palavras, contemplar o olhar divino purifica o coração, permite que a claridade divina ilumine a visão e ensine a ver tudo à luz da verdade e da compaixão. Nesse sentido, um coração, que se sente olhado com amor, transforma a realidade. Deus constantemente observa seus filhos com ternura e misericórdia; a humanidade aprende com o conhecimento interior de nosso Senhor a amá-lo, segui-lo e imitá-lo pela caridade; e faz manifestar, em si e na sociedade, seu verdadeiro fim: a bem-aventurança.
(22ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).