Ao concluir esta reflexão sobre a dignidade humana, compreendida como inerente à natureza e identidade da pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), observa-se que a humanidade, chamada a participar da vida divina e da comunhão com Deus e com o próximo, possui um valor irrecusável. Ele transcende qualquer outro atributo ou ideologia e fundamenta-se na eleição e amor divinos, que conferem liberdade e impulsionam o homem e a mulher a amar e a agir conforme sua verdade.
A reflexão sobre o olhar de Jesus a Pedro, presente em Lc 22,61-62, nos revela que, assim como esse gesto resgatou a identidade mais profunda de Pedro, o olhar de Deus nos convida a ver o ser humano com amor e misericórdia. Mesmo em uma sociedade marcada por ideologias, egoísmos e fechamentos, o olhar divino nos desafia a resgatar a verdadeira autoimagem de cada pessoa, conforme a visão original de Deus: “viu tudo o que tinha feito e era muito bom” (Gn 1,31).
Ao se afirmar a constituição integral da pessoa humana à imagem e semelhança de Deus, emergem aspectos fundamentais: a tridimensionalidade da essência relacional, expressa nas relações com Deus, com os outros e com o mundo; e a importância da abertura à transcendência no desenvolvimento social. Na perspectiva pastoral, a conversão integral e a correta compreensão da pessoa humana, incluindo sua liberdade, singularidade e responsabilidade, são cruciais para a missão evangelizadora. Esses elementos iluminam o valor humano e a busca pela fraternidade, servindo também como base para futuras pesquisas focadas na ética cristã, nos direitos e na dignidade humana, fundamentados numa genuína conversão a Deus.
A presente reflexão suscitou e aprofundou a conscientização de se focar em Deus, que revela o valor e a posição ontológica da humanidade. Além de expandir a estrutura teórica, promoveu uma prática que valoriza a vida em sua plenitude. Rejeitaram-se perspectivas que desfiguram a identidade humana e fragmentam o seu ser, como o individualismo que destitui de significado as relações interpessoais concretas. Acautelou-se contra o pessimismo antropológico, que leva à inércia, e contra o otimismo ingênuo, que ignora a capacidade pessoal de rejeitar o bem. Finalmente, intento primordial e conclusivo foi destacar uma esperança ancorada na verdade, que impulsione a viver com autenticidade, fraternidade, justiça e bem-aventurança, valores supremos do anseio universal da comunidade dos homens.
(23ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).