A arte de celebrar, por ser inseparável da teologia litúrgica e da prática pastoral, emerge como uma manifestação concreta de adesão e obediência à harmonia ritual da liturgia. Essa adesão não se limita à mera execução correta dos ritos, mas abrange também a compreensão do significado teológico por trás de cada elemento litúrgico. É uma entrega consciente à ordem estabelecida pela Igreja, reconhecendo-a como expressão da vontade divina, e respondendo com amor e fidelidade a essa vontade manifestada na liturgia.
Diante dos perigos do individualismo e do subjetivismo, que são marcas de nosso tempo, surge nas comunidades de fé um espiritualismo abstrato, tanto por quem preside a liturgia, quanto por quem a celebra. Como resultado dessa ação, emerge o olhar para as normas prescritas nos livros litúrgicos sem a sua essência evangelizadora. Nesse contexto, que elementos, à luz da 3ª edição típica do Missal Romano, devem ser levados em consideração para que a arte de celebrar promova melhor participação e espiritualidade?
Para que a arte de celebrar promova melhor participação e espiritualidade precisa emanar de uma catequese que ensine as pessoas o sentido mistagógico do rito da celebração eucarística, fugindo de um rubricismo. Urge realçar e cumprir os objetivos da Sacrosanctum Concilium naquilo que se refere à participação ativa, plena e consciente de todos os fiéis, respeitando cada um o seu ministério. Carece ainda ser preparada com antecedência por uma equipe litúrgica, os músicos e o presidente da celebração.
E mais, Bento XVI, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis (nº 23), afirma vigorosamente que “é necessário que os sacerdotes tenham consciência de que, em todo o seu ministério, nunca devem colocar em primeiro plano a sua pessoa nem as suas opiniões, mas Jesus Cristo. Contradiz a identidade sacerdotal toda tentativa de se colocarem a si mesmos como protagonistas da ação litúrgica. Aqui, mais do que nunca, o sacerdote é servo e deve continuamente empenhar-se por ser sinal que, como dócil instrumento nas mãos de Cristo, aponta para Ele. Isso se exprime de modo particular na humildade com que o sacerdote conduz a ação litúrgica, obedecendo ao rito, aderindo ao mesmo com o coração e a mente, evitando tudo o que possa dar a sensação de um seu inoportuno protagonismo”.