Tudo na Igreja é alvo de crítica: o que ela é e o que não é, mas deveria ser; o que ela faz e o que não faz, mas deveria fazer. A Igreja é criticada de fora e de dentro, pelos “progressistas” e pelos “conservadores”, pelas suas doutrinas e pelas suas práticas.
Dependendo dos lugares e pessoas, são exigidas da Igreja opções e condutas contrárias.
Para uns, a Igreja deveria ser a Igreja da fraternidade e do amor, e é uma instituição fria, autoritária; deveria ser a Igreja da participação e co-responsabilidade, e é uma Igreja dogmática; deveria ser a Igreja do diálogo e da compreensão, e é uma Igreja doutrinária e clerical; deveria ser uma Igreja servidora e pobre, e é uma Igreja poderosa e rica.
Para outros, a Igreja deveria ser o lugar das certezas e da segurança, das posições firmes e imutáveis, e é uma Igreja mundana, que muda conforme os ventos da moda.
A crítica, no sentido amplo de discussões e conflitos, sempre existiu na Igreja. Os cristãos da Igreja antiga e medieval percebiam, não menos do que nós hoje, as limitações, incoerências e infidelidades da Igreja. E as criticavam, às vezes mais duramente do que os cristãos mais críticos de hoje. Porém as críticas não afetavam sua lealdade eclesial, não se escandalizavam como nós hoje, nem eram tentados a viver a fé cristã independentemente da Igreja histórica concreta, fora dela ou contra ela. A crítica aos papas, aos bispos e ao clero foi exercida por grandes teólogos e santos, mas sempre com muito respeito à instituição e à função.
Na verdade, tanto o católico de tendência “tradicionalista” quanto o católico de tendência “progressista” são idealistas, por sonharem com uma Igreja totalmente pura. No fundo, as duas posições concebem a Igreja como uma grandeza externa aos cristãos que a formam. Negam, na prática, que a Igreja que existe concretamente, a comunidade da qual são membros os cristãos reais, inclusive eles mesmos, é e será sempre a Igreja de pecadores, que deve ser incessantemente perdoada e purificada pelo amor de Deus.
Uns criticam a Igreja a partir de um amor sincero, mas ferido ou desiludido; outros a agridempor desprezo ou menosprezo, por ignorância ou má fé. Diante das críticas, é necessário encontrar as motivações profundas dessas reações, tais como: a irritação, a agressividade, o desânimo e o ceticismo.
As limitações, falhas e incoerências da Igreja, no passado e no presente, são inegáveis. Com razão, foram e devem continuar sendo criticadas. Mas, ainda que sejam verdadeiras e pertinentes, as críticas não põem em questão a essência nem a existência da Igreja. Mostram, pelo contrário, sua necessidade como sacramento do perdão e da reconciliação.
Alguns criticam a dimensão institucional da Igreja como sendo um mal necessário, por limitar a liberdade das pessoas. Sem dúvida, as instituições delimitam o espaço da liberdade do indivíduo, mas não aescravizam nem a diminuem, antes, elas criam as condições para que a liberdade possa ser exercida e desenvolvida. E uma prova da necessidade das instituições é que, quando elas são destruídas, é destruída também a vida social: as formas de convivência, de comunicação, de entendimento e de participação entre os homens. O próprio Jesus não foi – como alguns julgam – apenas um profeta itinerante. Ele instituiu os Apóstolos, prometeu edificar a sua Igreja sobre a fé professada por Pedro, instituiu a Eucaristia e, depois da ressurreição, enviou os Apóstolos por todo o mundo, dando-lhes determinados poderes e instruções.
Dom Félix