Olá! Alegria e paz!
A religião é universal. É possível encontrar sinais de conteúdos religiosos em todos os tempos e em todas as civilizações, ainda que arcaicas. Os seres humanos de todos os tempos e origens manifestaram abertura ao religioso.
As ciências humanas e sociais se debruçam sobre o fenômeno religioso com o objetivo de melhor compreender esta realidade intrigante e impactante, afinal, as crenças religiosas interferem diretamente nas interpretações que os indivíduos fazem da realidade à sua volta, inclusive das questões sociais.
Entre tantas possibilidades de abordagem desta temática, convido você a refletir sobre a tendência de atribuir a Deus (ou a outras divindades!) a responsabilidade por situações que decorrem diretamente das escolhas – ações ou omissões – dos humanos, ou seja, das tantas vezes que Deus paga uma conta que não é dEle!
Calma, caro leitor! Tenha paciência, querida leitora! Não pretendo colocar sob dúvida os atributos divinos de onipotência, onipresença, onisciência, mas refletir sobre o risco de usar Deus para mascarar a realidade ou perverter a clareza dos fatos.
Considerando a sabedoria bíblica, Deus é Senhor de tudo, portanto, não cai um fio de cabelo ou uma folha da árvore sem que Ele permita, por outro lado, considerando a mesma sabedoria bíblica, a relação entre Deus e o ser humano é permeada pela liberdade/livre arbítrio (Santo Agostinho!). Logo, o senhorio de Deus deve ser pensado em consonância com o fato de Deus criar um ser que faz escolhas (boas ou ruins) e que está fadado a arcar com as consequências de suas ações e/ou omissões.
Não é coerente atribuir a Deus a responsabilidade – na verdade, a culpa – por resultados diretamente ligados às ações humanas. É duvidoso e suspeito usar Deus para esconder os verdadeiros culpados pelas tragédias causadas por negligência, imperícia, imprudência ou mesmo pela má-fé de indivíduos ou grupos.
Deus deve ser invocado para ajudar a transcender as fatalidades; Ele preenche os vazios deixados pelas perdas; responde às inquietações mais profundas que surgem diante das crises; fomenta a geração de sentidos e empodera…, mas não deve ser instrumentalizado para substituir quem realmente causou o dano.
Quando vemos alguém morrendo aos 40 anos, por exemplo, por falta de atendimento médico, por falta de vacina, por falta de oxigênio, por falta de acesso a um leito de hospital (de UTI, por exemplo), antes de dizer que morreu porque Deus quis, antes de uma passiva conformidade é necessário que façamos outras perguntas que nos permitam identificar eventuais responsáveis/culpados. É cômodo e demasiado raso dizer apenas que morreu porque chegou a hora, porque Deus quis.
À medida que as pessoas não cumprem com suas obrigações, assumem os riscos dos resultados que estas omissões podem causar e são responsáveis/culpadas. Um motorista que, em função de estar alcoolizado, provoca um acidente e mata uma pessoa é responsável por esta morte. Quem provoca aglomeração em tempo de pandemia viral e isso leva pessoas à morte, é corresponsável pelos resultados, inclusive pelas mortes. Um governante que não cumpre sua missão no enfrentamento de uma crise é culpado por ter sido irresponsável… Deus pode ser poupado!
Lembra daquela morte da pessoa de 40 anos? Então, antes de atribuí-la a Deus, verifique se ela não seria evitável; pergunte sobre quem deixou de cumprir suas obrigações; tenha coragem para aceitar que o Deus que tudo pode não deve nem precisa ser culpado pelos equívocos humanos. Fique bem!