O olhar de Jesus no evangelho de Lucas
Na bula Misericordiae Vultus (1), o Papa Francisco destaca que a misericórdia divina alcança seu ápice em Jesus de Nazaré, enviado pelo Pai, para expressar de forma definitiva o amor divino, de modo que “quem O vê, vê o Pai” (Jo 14,9). É a salvação que se realiza no presente, cumprindo a profecia de Isaías desde o início de sua missão (Lc 4,21). O Papa conclui apontando que é preciso, então, sempre contemplar este mistério de graça e misericórdia, fonte de alegria, serenidade e paz.
Os encontros com Jesus, em Lucas, são marcados pelo poder transformador de sua visão. Como plena revelação da misericórdia divina, os olhos de Jesus refletem o mesmo olhar de Deus descrito nos relatos da criação, além da compaixão e misericórdia do Pai, trazendo transformação e alegria. Em Lucas, há diversos relatos dos horizontes que se cruzam e que renovam a vida e o coração das pessoas.
Ao “ver a fé” do paralítico descido pelo telhado, Jesus perdoa seus pecados e o cura (Lc 5,17-26). Da mesma forma, ao ver Levi na coletoria, Jesus o chama (Lc 5,27-32). Olhando as pessoas na sinagoga, cura o homem com a mão seca (Lc 6,6-11). Certo tempo depois, vê a tristeza do jovem rico que busca a vida eterna (Lc 18,18-30). Em Jericó, atende ao clamor do cego que deseja enxergar novamente (Lc 18,35-43). Aproximando-se de Jerusalém, ao ver a cidade, Jesus chora por sua rejeição ao Senhor da paz (Lc 19,41-44). No templo, ao levantar os olhos, vê a oferta dos ricos e a doação sincera da viúva (Lc 21,1-4). Por fim, no caminho de Emaús, os dois discípulos têm seus olhos abertos e o reconhecem na Eucaristia (Lc 24,13-34).
Lucas inclui episódios exclusivos que revelam a profundidade com que Jesus enxerga, convidando o ser humano a imitá-lo, para transfigurar seu modo de se ver. No cortejo fúnebre do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), ao vê-la tomada pela dor do luto, Jesus se enche de compaixão e, sem que a mulher peça, ressuscita o filho. Este ato é um dom gratuito de Deus, que deseja restituir alegria e esperança, demonstrando seu poder sobre a vida e a morte. Jesus é o Senhor, título que apenas Lucas utiliza para Jesus.
(10ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).
