E o ser humano viu: um olhar de esperança
Até aqui vimos a dignidade humana sob a perspectiva divina. Bento XVI, na Audiência Geral de 22/08/2007, enfocando o olhar de compaixão e misericórdia de Jesus – sacramento da restauração da identidade plenamente realizada na encarnação, morte e ressurreição de Cristo, que nos concede a adoção como filhos e filhas de Deus – recorda o ensinamento de São Gregório Nazianzeno: “Para redimir o homem na sua totalidade de corpo, alma e espírito, Cristo assumiu todas as componentes da natureza humana. Deste modo, à luz do mistério da salvação: ‘O que não foi assumido, não foi curado’. Tornando-se homem, Cristo deu-nos a possibilidade de nos tornarmos por nossa vez como Ele. E ainda exorta: ‘Procuremos ser como Cristo, porque também Cristo se tornou como nós: tornar-nos deuses por meio d’Ele, dado que Ele mesmo, através de nós, se tornou homem. Assumiu sobre si o pior, para nos doar o melhor”.
Passamos à análise do olhar humano buscando, na dicotomia das experiências da vida, a esperança que surge ao ser fitado por Deus, tal como na criação e na experiência de Pedro com Jesus, isto é, na humanidade em processo de conversão.
O pecado marca o ser humano, assumindo uma tríplice dimensão: alienação em relação a si mesmo, em relação ao próximo e em relação a Deus. Pelo pecado, o homem se desintegra internamente, buscando sua independência em relação a Deus. A negação de Pedro reflete a miséria humana pela liberdade mal administrada e pela não aceitação de sua condição de criatura. Por isso, o pecado se manifesta como a recusa, em maior ou menor grau de consciência, a tomar a cruz a cada dia e de fazer o esforço de passar pela porta estreita.
A conversão representa o movimento inverso: de reencontro da pessoa consigo mesmo (com a sua verdade); reencontro com o próximo e o mundo; reencontro com Deus, pressuposto dos dois primeiros. Se o pecado provoca a desarmonia, a conversão é a restauração dela, trazendo o ser humano de volta à sua identidade fundamental.
(15ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).