Apesar das fragilidades e finitude humanas, Pedro, assim como todos nós, é chamado a confirmar os irmãos na fé, após sua conversão. Sob o olhar de Jesus, a humanidade é convocada a realizar sua vocação para a comunhão eterna com Deus e com os irmãos. A conversão é movimento em direção a essa comunhão que está tanto na origem quanto no fim último do homem. Santo Irineu de Lion afirmou essa realidade quando disse que “a glória de Deus é a vida do homem e vida do homem consiste na visão de Deus”, porque, nesta relação, a humanidade atinge sua plenitude.
Orígenes faz uma reflexão sobre a dualidade da imagem humana marcada pelo pecado, mas que não constitui um fundamento de desvalorização, e sim uma razão de esperança: Segundo ele, “há duas imagens no homem: uma que recebeu de Deus, no tempo da criação, como está escrito no Gênesis: ‘À imagem e semelhança de Deus’; e outra, do homem ‘terrestre’, que recebeu em seguida, por causa da desobediência e do pecado, seduzido pelos atrativos do ‘príncipe deste mundo’. Do mesmo modo que uma moeda tem a imagem dos imperadores do mundo, assim aquele que faz as obras do ‘príncipe das trevas’ traz a imagem desse príncipe, de quem faz as obras. Jesus ordenou que devolvêssemos essa imagem e que a arrancássemos de nosso rosto, para colocarmos a imagem segundo a qual, na origem, fomos criados, isto é, à semelhança de Deus”.
A grandeza humana, enraizada no amor do Criador, encontrada em Cristo que, ao assumir a existência humana, elevou-a a altíssimo custo, reafirma que cada pessoa possui valor inestimável, a despeito das condições sociais e existenciais de vida (GS 22). Com isso, não devemos adotar uma visão antropológica pessimista ou presunçosamente otimista, mas reconhecer que a dignidade humana é um dom que não pode ser concedido ou retirado, atributo exclusivamente divino. Essa verdadeira e justa percepção de si mesmo, que o ser humano deve ter, permite-lhe viver uma vida autêntica e plena.
(16ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).
