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A Dignidade Humana sob o olhar de Deus – 18ª parte

A Dignidade Humana sob o olhar de Deus – 18ª parte

Quando o indivíduo não reconhece sua própria dignidade, age de forma egoísta e sem empatia, desconstruindo suas relações interpessoais. Em Gênesis 3, a serpente induz Adão e Eva a desconfiarem de Deus, sugerindo que esta familiaridade com o Criador os privava do conhecimento verdadeiro e, em consequência disso, de serem livres. Nasce daí uma falsa sensação de serem enganados e desvalorizados por Deus. Tal tentação os levou a almejar uma existência independente, que rejeita suas limitações de criaturas e que vê a dependência do amor divino como um fardo. Assim, ao se rebelarem, negaram sua origem e seu caráter.

Em contrapartida, quando a humanidade compreende que depende inteiramente de Deus, seu Criador, ela readquire sua verdadeira liberdade, pois não será escrava de si mesma, nem das criaturas. Essa autenticidade alicerçada em Deus, que revela o homem ao homem, lança a pessoa humana para o esvaziamento de si mesma, cria espaço para a presença de Deus e, junto d’Ele, para a comunidade dos irmãos e irmãs, pois, “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18a).

Esse esvaziar-se de si não é sinônimo de anulação de si mesmo, mas é reordenar-se em direção ao Outro (Deus) e ao outro (pessoas) que concretiza a essência humana. Nessa ótica, esta abertura é uma alteridade, irredutível à interioridade, e que, no entanto, não violenta a interioridade; é uma receptividade sem passividade, uma relação entre libertos. E que se realiza na perspectiva inter-humana de minha responsabilidade por outra pessoa, sem preocupação com reciprocidade, no meu apelo e socorro gratuito e numa relação harmoniosa de um para com o outro. Assim, a verdadeira realização humana se concretiza no encontro genuíno com o outro, onde a responsabilidade e a doação se tornam expressão da essência do ser.

Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate, alerta contra os falsos messianismos que, sob o pretexto de progresso e autonomia, negam a dimensão transcendente do desenvolvimento humano. Ele enfatiza que esses enganos escondem egoísmo e individualismo sob uma falsa pluralidade, enfraquecendo o homem e reduzindo-o a um meio. Contudo, a humildade de acolher a vocação divina transforma-se em verdadeira autonomia e liberdade (CV 17).

Portanto, a vocação humana, por sua natureza relacional, se realiza sempre em diálogo com Deus e com o próximo. Contudo, o pecado rompe essa dinâmica e obscurece a bondade tornando-se auto referencial. Como consequência, as relações são comprometidas e se instaura uma desordem na criação, afastando-a de Deus. Desse modo, urge compreender com clareza humana a essência dialógica que exige constante abertura ao amor de Deus, para restaurar os laços fraternos e promover a harmonia original da criação e de todo o cosmos, que consiste no humanismo integral.

(18ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).

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