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A Dignidade Humana sob o olhar de Deus – 19ª parte

A Dignidade Humana sob o olhar de Deus – 19ª parte

A visão sobre o outro: um olhar ad extra.

A declaração Dignitas infinita, em sua apresentação, nos convida a refletir sobre a imprescindibilidade do conceito de dignidade da pessoa humana na antropologia cristã. E ressalta o alcance e as implicações benéficas em nível social, político e econômico, considerando os últimos desenvolvimentos do tema em âmbito acadêmico e suas ambíguas compreensões no contexto atual. Essa reflexão é essencial, pois a adequada concepção antropológica influencia diretamente as ações e interações sociais.

Na Teologia, diz-se que a lei da fé (lex credendi) deve guiar a vida de fé (lex vivendi) e vice-versa, estabelecendo uma conexão profunda entre ambas. O Papa Francisco (EG 140-142) ensina que a fé em um Pai amoroso revela a excelência infinita de cada ser humano, pois o Filho de Deus assumiu a carne humana, elevando cada pessoa ao coração divino. A redenção de Jesus valoriza e dá sentido tanto aos indivíduos como à comunidade humana. E ele conclui afirmando que o Espírito Santo age criativamente, resolvendo até os desafios humanos e sociais mais complexos.

Essa visão se abstrai das narrativas bíblicas, como visto no relato de Caim e Abel. Com a pergunta de Caim a Deus – “Acaso sou guarda do meu irmão?” (Gn 4,9) – revela se a responsabilidade relacional que transcende o individualismo. São João Paulo II, na Encíclica Evangelium Vitae (19), afirma que cada pessoa é “guarda do seu irmão”, pois Deus confia o outro ao cuidado do homem. Desse modo, a liberdade dada por Deus é relacional, orientada ao serviço e à realização pessoal pelo dom de si e pela acolhida do outro. Quando a liberdade se torna absoluta de forma individualista, perde seu propósito e desconecta-se da verdade. Uma vez desnorteada, leva a decisões baseadas em opiniões subjetivas e interesses egoístas, sem referência a um bem comum: torna-se um não se colocar ao serviço da comunidade, mas pretender colocar a comunidade ao seu serviço.

A conversão é uma transformação interna do ser humano ao iniciar uma vida íntima com Deus. No entanto, ela somente se confirma pelo encontro com o próximo. Uma conversão focada só no indivíduo é ilusória, especialmente quando a entendemos como adesão ao Reino de Deus, que está entre nós. Por consequência, converter-se é sinônimo de aceitar os planos de Deus para a comunidade, na qual o Reino se desenvolve, e de ver os outros como irmãos.

(19ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus“).

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