E Deus viu: o fundamento da dignidade humana na criação
A originalidade desta reflexão reside na comparação entre o olhar divino para a criação e o olhar de Jesus para Pedro, na noite da negação, conforme o evangelista Lucas. Desses elementos fundamentais, torna-se evidente a verdadeira beleza e bondade impressas por Deus e que marcam a humanidade. Dessa forma, emergem aspectos pouco explorados, a fim de se confirmar a tese que aqui se apresenta.
Esta reflexão percorre três momentos, representados por olhares: o primeiro, “Deus viu”, reflete o olhar divino sobre a humanidade; o segundo, “Jesus viu”, examina o gesto compassivo e misericordioso de Jesus que restaura a dignidade de Pedro; por fim, o terceiro, “O ser humano viu”, oferece um aporte sobre a condição atual dos homens e das relações, abrangendo aspectos morais, sociais e existenciais.
O fundamento da dignidade do homem é apresentado no ato criativo. As Sagradas Escrituras, inspiradas pelo Espírito Santo, juntamente com a Tradição, revelam a verdade divina sobre o ser humano. Embora a Bíblia não ofereça uma definição exata, destaca sua natureza como um ser relacional, fundamentalmente, com Deus, com o próximo e com a terra. Dessa forma, podemos compreendê-lo em sua vocação e valor, natureza que se realiza na justiça e no amor.
No Gênesis, há duas narrativas da criação: a primeira apresenta o homem e a mulher como o ápice do criar divino (Gn 1,1–2,3a); a segunda mostra a humanidade como o princípio da criação (Gn 2,4b-15). No entanto, ambos os relatos reforçam o dado antropológico valorativo, fundamentado na condição de imagem e semelhança de Deus, destacando o gênero humano como a via privilegiada para conhecer o divino e como sendo sua representação autêntica.
(2ª parte da sequência de reflexões sobre o tema “A Dignidade Humana sob o olhar de Deus”).