A Igreja recebeu de Jesus Cristo o mandato de ir e fazer discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a cumprir tudo quanto ele nos ordenou. Essa é a vocação e a missão da Igreja.
Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e o lema “Eu vim para servir”, a CF 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Vaticano II.
Não podemos nos esquecer que as pessoas que vivem o Evangelho vivem na sociedade e que a sociedade é formada por pessoas que convivem de forma organizada, com leis e normas de conduta e com entidades que cuidam do seu bem-estar.
No entanto, percebemos que, na sociedade, acontece a exclusão e a não participação de pessoas que a compõem. Vivem à margem da sociedade e não têm sua dignidade e seus legítimos direitos respeitados, nem pelo poder público nem pela maioria dos cidadãos. Entretanto, o que deve caracterizar a sociedade é a partilha de interesses entre seus membros e a preocupação com a dignidade humana, o bem comum e a justiça social.
O Concílio Vaticano II recordou que para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou na terra o Reino de Deus, revelou-nos Seu mistério e por Sua obediência realizou a redenção da humanidade. E ordenou à Igreja nascente, representada ali pelos seus discípulos, a tarefa de anunciar o Reino de Deus e de cooperar na sua edificação.
Jesus entrou na história dos homens para que os homens deixassem se modelar por Deus, que os criou à sua imagem e semelhança para serem seus filhos e filhas muito amados. Por isso, a Igreja precisa ter uma presença ativa na sociedade, pois os que são Igreja, os cristãos, são parte da sociedade, vivem a sua fé na sociedade, testemunham os valores e deixam-se guiar pelos critérios do Evangelho.
Os cristãos são presença do Evangelho na sociedade. A Igreja sabe e afirma que, como comunidade de fiéis, participa ativamente da vida da sociedade e colabora na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária, preservando-a de ser excludente e violenta.
A CF 2015 nos convida a refletir sobre a relação entre Igreja e sociedade. Ela será uma oportunidade de retomarmos os ensinamentos do Vaticano II; ensinamentos que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade, para além de raça, religião, cor, sexo, escolaridade, posição social, condição financeira, são filhos e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade esteja a serviço de todos.
A Igreja reconhece que o Estado é laico e não deve adotar nenhuma religião como a oficial, mas ela entende também que o povo é religioso e que o Estado deve respeitar o direito de cada pessoa de professar sua fé dentro de uma religião ou comunidade religiosa.
Ao longo de sua história, a Igreja sempre se colocou a serviço da sociedade: criando instituições, organismos e campanhas que visam contribuir para melhor conhecimento das questões sociais e para dar mais eficiente resposta ao clamor dos pobres e excluídos: asilos, orfanatos, hospitais, escolas, universidades, cemitérios; e órgãos como: Cáritas, CIMI, CPT…
Atualmente, a Igreja se coloca efetivamente a serviço da sociedade por meio das pastorais sociais (Ex.: Pastoral da Criança, Pastoral Carcerária, Pastoral da Sobriedade…) e dos movimentos sociais (Ex.: Movimento Fé e Política, Grito dos Excluídos, Movimento pela Ética na Política…). Por meio das pastorais e movimentos sociais, a Igreja expressa sua solicitude e cuidado com as pessoas marginalizadas, excluídas e injustiçadas, e o empenho sociopolítico da sua ação pastoral nas complexas questões sociais que ameaçam a vida.
Nesse sentido, nossas comunidades de fé devem ser uma Igreja “em saída”. Uma Igreja que sabe tomar a iniciativa, sem medo, de ir ao encontro dos afastados e dos excluídos para acolhê-los e oferecer-lhes ajuda e misericórdia. Assim como Jesus, que lavou os pés dos seus discípulos, num gesto de humildade e de serviço, assim também o cristão vai ao encontro das pessoas acolhendo-as nas suas dores e sofrimentos.
Com obras e gestos, a comunidade missionária busca o contato com as famílias e com a vida do povo, em todos os ambientes e setores da sociedade, porque entende que a missão da Igreja de evangelizar passa pela caridade, pois os pobres são os destinatários privilegiados do evangelho e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. A caridade é anúncio, anúncio mais forte do que muita pregação vazia de testemunho.
O serviço à vida prestado pela Igreja compreende a proteção ao ser humano, sobretudo aos mais pobres e fragilizados, e aos seus direitos, universais e inalienáveis, como expresso na sua doutrina social, tais como: direito à água limpa e potável, direito à alimentação, direito à moradia, direito à liberdade, direito à manifestação política, direito à educação de qualidade, direito ao atendimento médico-hospitalar digno, direito à manifestação religiosa publicamente. Mas o fundamento de todos esses direitos é o direito à vida, desde a concepção até o seu fim natural. Todo empenho pelos direitos humanos começa por esse direito, pois a vida é dom e graça de Deus, e só a Ele pertence.
A fé cristã deve incidir em todas as dimensões da vida, e não só no âmbito privado. Ela deve chegar à expressão política, que apresenta entre suas finalidades principais a promoção do bem comum e da justiça social. Por isso, é dever da Igreja apoiar certas iniciativas, tais como: a luta pacífica dos camponeses pela reforma agrária e por condições dignas de trabalho no campo; as relações de trabalho que compreendem o salário justo e o emprego decente; o acesso à moradia; o estabelecimento de políticas públicas de inclusão social dos excluídos…
Concluímos que nós e nossas comunidades cristãs precisamos nos converter à missão de evangelizar a sociedade, tornando-a mais justa e solidária, mais fraterna e acolhedora.
Dom Félix