A forte relação entre o contato com a Palavra de Deus e o sucesso (seja ele patrimonial, afetivo ou de saúde), pode chegar ao ponto de não se permitir a correta compreensão da Cruz e do Cristo Crucificado por amor. Não se trata de usar a Palavra de Deus para justificar o sofrimento, mas de não perceber que ela nos estimula a acolher a própria Cruz e a ajudar os irmãos e irmãs a carregarem as suas, como Simão Cireneu. Quem retira a Cruz da pregação da Palavra acaba por retirar Aquele que, por amor até o extremo, acolheu a morte de Cruz.
A própria Palavra de Deus nos adverte a respeito de quem a usa para o enriquecimento. Fingindo piedade, há pessoas, como Ananias e Safira, que enganam a comunidade. Seu Deus parece ser outro que não o misericordioso Pai de Jesus Cristo. Por compreenderem o Deus da Palavra e a Palavra de Deus como fonte de benefícios pessoais, não geram misericórdia nem contribuem para a santa indignação diante da pobreza e da violência. Tornam-se, na verdade, promotores da indiferença, ainda que prometam libertação e sucesso. Sob a forma de uma palavra de vida, geram uma palavra de ilusão e morte. Esquecem-se de que o Evangelho de Jesus Cristo é graça de Deus e que a salvação foi distribuída de graça para todos.
Deixam a forte impressão de que estão tentando pregar outro Evangelho que não o pregado e testemunhado por Jesus.
Recorre-se à Palavra de Deus para fundamentar e alimentar uma mentalidade individualista e consumista, não havendo lugar para a solidariedade e para a compaixão, pois, para essa compreensão, o pobre é um fracassado, alguém que não recebeu a bênção divina. Quando, pois, se pensa que Deus deve exclusivamente suprir as necessidades materiais das pessoas, acionado mediante a contrapartida financeira do fiel e a sua oração exigente, esquece-se o que a própria Palavra de Deus ensinou: “o Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito Santo. Quem serve assim a Cristo, agrada a Deus e é estimado pelos homens”.