A perspectiva teológica da paróquia, como vem sendo vista até aqui, aponta para a comunhão entre as pessoas e considera a paróquia como uma rede de comunidades unidas entre si. No sentido teológico-pastoral, paróquia é a experiência de Igreja que acontece ao redor da casa (domus ecclesiae). É a Igreja que está onde as pessoas se encontram, independentemente dos vínculos de território, moradia ou pertença geográfica. É a casa-comunidade onde as pessoas se encontram. Isso nem sempre fará referência a um espaço determinado. A paróquia pode ser não territorial, ambiental ou de acordo com a escolha da pessoa (DAp 307-310; 99 e 170).
A ideia de paróquia como casa, entretanto, pretende fornecer o conceito de lar, ambiente de vida, referência e aconchego de todos que transitam pelas estradas da vida. Recuperar a ideia de casa não significa fixar um território ou lugar, mas garantir o referencial para o cristão peregrino encontrar-se no lar. É uma estação, uma parada no caminho para a pátria definitiva. Uma estação para prosseguir na estrada de Jesus e com ele nos deter na casa dos amigos, como fazia em Betânia, na casa de Marta, Maria e Lázaro.
Atualmente, há uma situação social de desamparo, de falta de pertença e até de deserto espiritual que reclama uma casa de acolhida em meio às dificuldades. A paróquia pode e deve ser essa casa. Isso implica a maior abertura das paróquias para os desafios de nossa época, considerando a realidade despersonalizante, especialmente nos grandes centros urbanos. A paróquia como casa é o local onde se ouve a convocação feita por Deus em Cristo, para que todos sejam um e vivam como irmãos. O chamado é para todos. É vocação para todos formar a grande família de Deus, a família dos que “ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21).
A paróquia é a casa da Palavra, do Pão e da Caridade.
A paróquia é a casa da Palavra, que se torna a casa do discípulo que acolhe e pratica a Palavra. É a Igreja que se define pelo acolhimento do Verbo de Deus, que, encarnando, colocou a sua tenda entre nós. Essa morada de Deus entre os homens, prefigurada no AT, ‘realiza-se agora com a presença definitiva de Deus no meio dos homens em Cristo’ (VD 50).
Enquanto é comunidade atraída pela voz do seu Senhor, a Igreja escuta, acolhe e vive a Palavra, sendo a liturgia o lugar privilegiado para essa comunicação: “Considerando a Igreja como ‘casa da Palavra’, deve, antes de tudo, dar atenção à Liturgia sagrada, que constitui, efetivamente, o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo, que escuta e responde” (VD 52).
A paróquia é a casa do Pão. A Igreja se nutre com o pão do corpo de Cristo. Na Eucaristia, se estabelecem as novas relações que o Evangelho propõe a partir da filiação divina que o cristão recebe do Pai em Cristo. A fraternidade é expressão da comunhão com Deus que se estende na comunhão com os irmãos e irmãs. Jesus nos atrai para si e nos faz entrar em seu dinamismo em relação a Deus e ao próximo. A Eucaristia é fonte inesgotável da vocação cristã e do seu impulso missionário. A partir da Eucaristia, cada paróquia chegará a concretizar em sinais solidários o seu compromisso social pela prática da caridade.
O Deus que caminhou no deserto com o Povo de Israel “fez a sua morada entre nós” (Jo 1,14). Mostrou-se solidário conosco, fez-se um de nós; nasceu em Belém, a “casa do pão”; peregrinou pelas estradas da Galileia e da Judeia; providenciou palavra e alimento para os cansados e abatidos. A Igreja, morada de Deus, casa do pão, precisa, como seu Senhor, acolher os peregrinos, oferecer pão aos que têm fome, dizer uma palavra significativa para os que estão em busca de sentido.
A comunidade cristã vive da Eucaristia: “A fé da Igreja é essencialmente fé eucarística e alimenta-se, de modo particular, à mesa da Eucaristia. A fé e os sacramentos são dois aspectos complementares da vida eclesial” (SC 6). Igualmente a é a Eucaristia que une a comunidade pelo Espírito Santo em Cristo, para chegar ao Pai: “É significativo o modo como a Oração Eucarística II, ao invocar o Paráclito, formula a prece pela unidade da Igreja: participando no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos, pelo Espírito, num só corpo” (SC 15).
A paróquia é a Casa da Caridade. A partir da Palavra e da Eucaristia, o cristão é uma nova criatura e vive numa nova dimensão em relação com Deus e o próximo. Jesus disse: “Não vos chamo servos, mas amigos”. A amizade é paradigma de todo relacionamento de Jesus com os discípulos e de Deus com a humanidade. Diante do pecado da humanidade, Deus não se torna seu inimigo, mas pela encarnação de Cristo se revela como Deus conosco.
O próprio Senhor disse que “não há maior amor do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). A amizade torna-se, então, expressão da ágape, o centro da charitas cristã. Essa amizade se traduz em compaixão para os que sofrem; assim, nasce a missão: o Deus amigo convoca a humanidade para derrubar as barreiras que impedem a fraternidade evangélica.