Tema: Bacia do Rio Doce, Nossa Casa Comum
Lema: Corresponsabilidade de todos frente à vida ameaçada.
Reunidos às margens do Rio Doce, na bela cidade de Resplendor – MG, diocese de Governador Valadares, o povo peregrino e romeiro proveniente dos estados de Minas Gerais, do Espírito Santo e diversos Estados brasileiros, celebra a Primeira Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce, neste cinco de junho de 2016, dia mundial do meio ambiente, após sete meses do rompimento da barragem do Fundão no município de Mariana – MG.
Constatamos que este é o pior crime socioambiental no mundo, pois a força e o volume da lama tóxica que desceu da barragem e seguiu o curso do rio Doce, a quinta maior bacia hidrográfica do Brasil, causou a morte de dezenove pessoas, riscou do mapa o distrito de Bento Rodrigues, desalojou inúmeras pessoas ao longo do curso dos rios, destruiu estruturas públicas e privadas, áreas agrícolas e pastoris, áreas de preservação permanente e a biodiversidade aquática e terrestre, matando toneladas de peixes, além de assorear cursos d’água e interromper o abastecimento de água de inúmeras populações em mais de 660 quilômetros de rios, até chegar ao litoral do estado do Espírito Santo, onde pelo menos 70 quilômetros de costa do oceano Atlântico foram poluídos.
Constatamos também que a amplitude desse crime socioambiental é um verdadeiro escândalo que nos humilha e nos envergonha, diante da voracidade do poder econômico que destrói o meio ambiente e devora a vida humana, expondo a fragilidade das instituições da sociedade civil e da estrutura política de nosso país, que se apoia no poderio econômico da mega mineração, cujo objetivo é privatizar os lucros nas mãos de grupos particulares e obrigar a parcela mais vulnerável da população a pagar pelos malefícios causados por este modelo desenfreado de exploração e destruição.
Denunciamos a mineradora Vale e BHP Billiton, as maiores empresas mundiais de exploração de minério de ferro, proprietárias da Samarco, causadora deste crime, pelos danos socioambientais e econômicos que, devido sua gravidade, ainda não podem ser completamente calculados, até porque eles continuam a ocorrer e estima-se que se leve de quinze a vinte anos para a recuperação das áreas degradadas.
Com o papa Francisco assumimos o compromisso de dizer “não a essa economia de exclusão e desigualdade, na qual o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco. ”
Exigimos “uma economia de inspiração cristã, uma economia justa que crie condições para que cada pessoa possa gozar de uma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos como adulto e ter acesso a uma digna aposentadoria na velhice. Uma economia na qual o ser humano, em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Esta economia não é apenas desejável e necessária, mas também possível. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir – pacífica, mas tenazmente – a adoção urgente de medidas apropriadas. ”
Lutaremos com todas as forças para devolver às gerações atuais e futuras um Rio Doce carregado de vida e não de morte.
Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra.
Resplendor-MG, 05 de junho de 2016
Por: Padre Nelito Dornelas