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Carta de Dom Félix ao Povo de Deus

Carta de Dom Félix ao Povo de Deus

brasão dom féix

CARTA PASTORAL DE CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA DIOCESANA DO POVO DE DEUS

Amados irmãos e irmãs em Cristo da Diocese de Governador Valadares:

             A Conferência de Aparecida significa para a América Latina e o Caribe ‘uma hora de graça’, um ‘novo Pentecostes’, um autêntico ‘acontecimento salvífico’ que colocou a Igreja, peregrina nestas terras, num estado permanente de missão (DAp, nº 547).

O Documento de Aparecida indica rumos para nossa ação pastoral. Em vista da próxima Assembléia Diocesana de Pastoral (ADP), queremos refletir sobre dez linhas mestras para impulsionar a vida cristã e o dinamismo pastoral em nossos dias.

  1. Viver a alegria de ser discípulo. O eixo da alegria perpassa todo o Documento de Aparecida e a Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’, do Papa Francisco. Não se trata de um sentimento qualquer, mas de um testemunho de vida. A alegria é um sacramento, uma confissão de fé. Chega de Igreja carrancuda. A alegria convence e atrai. Precisamos ser Igreja de atração.
  2. Conversão pastoral. Passou o tempo da acomodação pastoral. Nada de retrocesso nem de conservadorismo. A conversão pastoral consiste em imbuir-se de espírito missionário e abandonar as estruturas caducas (DAp, nº 379). Perceber os sinais dos tempos, criar comunidades vivas, ter projetos pastorais são elementos da conversão pastoral.
  3. Missão permanente. A Igreja deve estar em estado de missão, com audácia apostólica e criatividade missionária. Precisa ser “uma Igreja em saída” (Papa Francisco). As paróquias sejam missionárias e façam de cada fiel um missionário e da família um santuário. Missão corpo a corpo, de casa em casa até os confins do mundo.
  4. Primado da Palavra. A condição indispensável para sermos discípulos missionários é a escuta, a interiorização e o anúncio da Palavra de Deus. Ter sempre a Bíblia na mão e no coração. Na escola da Palavra surgirá a primavera da Igreja, aumentará o ardor missionário, acontecerá a conversão à santidade. A porta de entrada no santuário da Palavra é a leitura orante da Bíblia.

  1. Experiência do encontro com Cristo. No início da vida cristã não está uma doutrina, nem uma ética, mas o encontro pessoal, a experiência transformadora e fascinante da amizade com Jesus Cristo amigo, salvador, profeta, Filho de Deus. Este encantamento levará à valentia apostólica.
  2. Centralidade do Reino de Deus. Faz parte da missão e da promoção humana, a libertação, o respeito pela dignidade da pessoa. A Igreja está a serviço do Reino de Deus que é o Evangelho, o próprio Jesus Cristo, promovendo a vida, ensinando o amor, revelando o Pai. O Reino é o pão, o irmão e o Pai, como rezamos no Pai Nosso.
  3. Ser Igreja da atração. A Igreja cresce pela atração, pela conversão de novos fiéis. Quanto mais santa, mais atraente, mais servidora, sendo casa e escola de comunhão, onde os pobres se sentem como em sua casa. Igreja discípula, samaritana, ecumênica, misericordiosa.
  4. Prioridade da vida. A Conferência de Aparecida fez uma corajosa “opção pela vida” (DAp, nº 430). Ela nos ensina que somos discípulos missionários a serviço da vida (DAp, nº 549). Desde a vida no ventre materno, passando pelo meio ambiente, assumindo a vida nova em Jesus Cristo e com olhos fixos na vida eterna, a Conferência de Aparecida colocou a vida como prioridade. Ela convoca todos à cultura da vida e a sermos profetas da vida, porque o projeto de Deus é um projeto de vida (DAp, nº 144).
  5. Formação dos discípulos missionários. Esta formação não é só doutrinal, mas existencial, envolvente, a partir da iniciação cristã, com forte toque bíblico. É uma formação na ação, mediante o anúncio e o testemunho, que começa a partir do encontro marcante com Jesus Cristo. Escolas de formação são a oração pessoal e os grupos de reflexão.
  6. Igreja: Comunhão e Participação. A partir da fé do povo, de sua religiosidade e solidariedade, nossa Igreja deve viver a espiritualidade da comunhão e participação, que realiza a integração entre fiéis, ministérios, pastorais, movimentos e comunidades, dando voz e vez a toda pessoa, imbuídos de caridade, respeito, diálogo e paz.

Nós, fiéis da Igreja Católica de Governador Valadares, Formamos a Igreja viva: comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, em permanente missão, a serviço da vida, da família e da juventude. Por isso, convocamos todo agente de pastoral (padres, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, leigos, leigas), dos ministérios, pastorais, movimentos e comunidades, para participarem em sua paróquia, com muito entusiasmo e responsabilidade, das atividades em preparação à Assembléia Diocesana de Pastoral, que terá início no dia 28 de fevereiro e o seu cume no dia 15 de novembro de 2015. O bom êxito da próxima ADP dependerá da participação ativa e co-responsável de todos: clero e fiéis, famílias e comunidades.

Durante o processo de realização da Assembléia (no momento paroquial, setorial e diocesano), que nosso objetivo seja a revisão da caminhada eclesial e o aperfeiçoamento da ação pastoral da paróquia, comunidade de comunidades, mediante a conversão pastoral, a ação missionária, a revitalização dos conselhos, a dinamização das comunidades e a formação de lideranças, com sólida catequese e liturgia orante. Assim teremos a oportunidade de nos conscientizarmos sobre nossa condição de discípulos missionários na família, na comunidade e na sociedade; e de renovarmos nosso compromisso de sermos uma Igreja viva, que participa da construção de uma sociedade justa e solidária, fundada no amor e na verdade, e que é, de fato, sinal e instrumento do Reino de Deus.

Entretanto, para que esses nossos objetivos sejam concretizados, quero alertá-los para seis perigos que assolam a vida e a missão do discípulo e da discípula de Jesus Cristo em nosso tempo: rotina, mediocridade, omissão, apego, preocupação e idolatria.

O primeiro perigo é a rotina. A rotina é um caminho destrutivo, porque ela torna a vida sem graça, monótona, sem expectativa de melhora e de transformação. Ela é a morte do cotidiano, o desprezo dos valores e das maravilhas. Supera-se a rotina pela vivência intensa do momento presente, com a consciência de que o passado já se foi, o futuro ainda não existe e o presente é uma dádiva maravilhosa de Deus, que nos desafia a continuar a luta da vida.

O segundo perigo é a mediocridade. A pessoa medíocre não quer saber de aprender, participar, transformar. Vive na alienação, contenta-se com o menos, não quer compromisso. Opta por uma vida sem sacrifício, sem lutas, sem responsabilidade, com muita indiferença e desinteresse. A pessoa medíocre é inimiga da disciplina, gosta de gabar-se de seus pecados e de criticar e diminuir os outros. Contenta-se com a superficialidade. A mediocridade pode ser curada com a força de vontade, buscando convicções e conversão.

O terceiro perigo é a omissão. Omissão é deixar de fazer o que devemos e podemos, assim como fazer mal o que podemos fazer bem feito. Omissão é fuga, escape, desinteresse, irresponsabilidade. O mundo seria melhor se não fôssemos omissos e acomodados. A omissão pode ser vencida adquirindo o senso de justiça, a sensibilidade pelos outros, a compaixão pelo irmão e principalmente a autenticidade.

O quarto perigo é o apego, que é raiz do sofrimento moral. Nossas brigas, ciúmes, discórdias, divisões são frutos do apego. Quem é apegado vive numa prisão. É escravo da dependência. Não tem liberdade interior. Não é capaz de discernimento. O apego nos impele à posse dos outros, das coisas e de nós mesmos. Isso gera muito sofrimento porque precisamos defender nossos apegos. Quando perdemos o objeto do apego ficamos raivosos, tristes, decepcionados, porque somos escravos, dependentes, condicionados pelo apego. O único caminho para libertar-se do apego é abandonar o objeto de apego, cuja recompensa é a liberdade interior, que significa sermos livres do mal, para nos tornarmos livres para a prática do bem. Vencemos o apego pela consciência do seu negativismo.

O quinto perigo é a preocupação, porque antecipa problemas, aumenta as dificuldades, desgasta as pessoas e não resolve nenhum problema. O que resolve é a ocupação. Além de prejudicar a saúde, a preocupação dificulta a convivência, alimenta o negativismo, o estresse e agressividade. Resolvemos o problema da preocupação com a fé na Providência Divina, com a previsão das soluções, com bom senso e discernimento. Mais solução, menos preocupação.

O sexto perigo é a idolatria. É tudo o que colocamos no lugar de Deus e endeusamos. Hoje em dia, os grandes ídolos são: o poder, o prazer e o ter, desordenados. Quem adora o Deus vivo e verdadeiro obedece o mandamento do amor a Deus, busca crescer na fé, livra-se dos ídolos. Adorar em espírito e verdade é o ensinamento de Jesus Cristo.

            Que Deus Pai nos abençoe! Que Jesus Bom Pastor nos conduza! Que o Espírito Santo nos ilumine! Que Santo Antônio nos proteja! Que a Virgem Maria interceda por nós!

Dado e passado na Cúria Diocesana de Governador Valadares, aos vinte dias do mês de dezembro do ano de dois mil e catorze, 28º aniversário sacerdotal deste pobre servo de Deus.

Dom Antônio Carlos Félix

Bispo Diocesano

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