“Todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitar a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado” (Sermões de São Leão Magno).
“Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, anunciando a Boa Nova de Deus: completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1,14-15).
“Isto diz o Senhor: voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai vossos corações e não vossas vestes” (Jl 2,12-13). O elemento essencial da conversão é propriamente a contrição do coração: coração dilacerado, esmagado pelo arrependimento dos pecados. De fato, a contrição sincera inclui o desejo de mudar de vida e leva, na prática, a tal mudança. Ninguém está isento desta obrigação! Cada pessoa, até a mais virtuosa, tem sempre necessidade de converter-se, isto é, de voltar-se para Deus com maior intensidade e fervor, superando as fraquezas e misérias que diminuem sua orientação total para ele.
“Suplicamos-vos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus”, insiste o Apóstolo, e repete: “exortamo-nos a não acolherdes em vão a graça de Deus” (2Cor 5,20; 6,1). Não somente quem está em pecado mortal necessita reconciliar-se com o Senhor. Cada falta de generosidade e fidelidade à graça impede a amizade íntima com Deus, esfria as relações com ele, é uma recusa de seu amor e exige, portanto, arrependimento, conversão, reconciliação.
Indica o próprio Jesus no Evangelho (Mt 6,1-6.16-18) os grandes meios que devem sustentar o esforço da conversão: a esmola, a oração, o jejum; ele insiste, sobretudo, nas disposições interiores que os tornam eficazes. A esmola “espia os pecados” (Eclo 3,30), mas quando é realizada unicamente para agradar a Deus e para ajudar os necessitados, e não para atrair louvores. A oração une o homem a Deus e impetra a sua graça, mas quando brota do santuário do coração e não quando é reduzida a vã ostentação ou a simples mover de lábios. O jejum é sacrifício agradável a Deus e desconta as culpas desde que a mortificação do corpo seja acompanhada por outra mais importante, a do amor-próprio. Só então, conclui Jesus, “teu Pai que vê o interior, recompensar-te-á” (Mt 6,4.6.18), ou seja, perdoar-lhe-á os pecados e lhe concederá graça sempre mais abundante.
Por Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (24ª Parte).