A parábola do filho pródigo apresenta a imensa misericórdia de Deus para com o homem pecador, mas também a disposição do pecador para encontrar misericórdia. O filho pródigo entra em si, reconhece as culpas, arrepende-se, resolve acabar com elas, voltar ao pai e confessar-lhe os pecados; sabe-se indigno de ser acolhido como filho, mas volta confiante na bondade paterna. Assim, cada confissão sacramental, para que traga frutos, deve ser precedida e acompanhada de arrependimento, de propósito de converter-se, de humildade do coração contrito, de confiança na misericórdia divina.
Fala a parábola também da misericórdia de Deus para com os filhos que ficaram em casa, fiéis a seus deveres, mas um pouco mesquinhos, pobres de amor. O costume os torna insensíveis ao benefício de viver na casa paterna, de gozar da contínua companhia do pai, por isso pecam em desamor para com ele. Muito convictos de serem bons filhos, bem diferentes dos extraviados que se foram a procura de aventuras, por isso pecam de desamor para com os irmãos afastados; não suportam que se tenham perdido e quando voltam arrependidos, espantam-se e talvez até se irritam por vê-los logo perdoados. É a mentalidade do fariseu que condena o publicano; dos operários da primeira hora que se indignam porque os últimos são tratados como eles.
Também esses filhos precisam da misericórdia de Deus para se curar de seu pecado, tanto mais perigoso quanto menos reconhecido. E os trata com a mesma misericórdia com que trata os filhos pródigos. Eis o pai ao sair ao encontro do filho mais velho que, indignado, não quer entrar em casa; insiste com ele, escuta o seu desabafo e, aos seus protestos de haver sempre obedecido, trabalhado tanto, sem jamais receber “um só cabrito” para festejar com os amigos, recebe uma única resposta: “Filho, estás sempre comigo, e tudo que é meu é teu” (Lc 15,31). O amor do pai é transbordante! Reclama o filho um cabrito e responde-lhe o pai: “Tudo que é meu é teu”; o filho não se sente amado porque não recebeu festas e responde o pai: “Estás sempre comigo!” Pode haver festa maior! Quer o pai vencer com amor o desamor do filho; quer fazê-lo compreender que é amado, mas também, que deve amar o irmão, “fazer festa e alegrar-se porque estava morto e reviveu” (Lc 15,32). Quer Deus os filhos vivos em seu Amor. Com Ele devem aprender a amar, eis o essencial.
Precisa também o filho mais velho confessar seu pecado. Confessá-lo com humilde e contrito coração, por ter vivido por tanto tempo na casa do pai e não ter ainda compreendido o mistério do seu amor. Perseverar no serviço de Deus é ótimo! Não quer Deus, porém, servir-se de mercenário, mas de filhos; e os filhos devem servir com amor.
“Que Deus é como vós que apaga a iniquidade e perdoa o pecado, que não se ira para sempre porque prefere a misericórdia! Uma vez mais, tende piedade de nós, Senhor; esquecei nossas faltas; jogai nossos pecados nas profundezas do mar! Mantende vossa fidelidade como juraste aos nossos pais, desde os tempos antigos!” (Mq 7,18-20)
Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (27ª Parte).