Segundo um pensamento chinês, dois transeuntes, tendo cada qual um pão entre as mãos, se encontram pelo caminho, conversam e trocam entre si o pão. Seguem para casa, ambos com um pão como estavam antes de se encontrarem. O que houve de mudança depois do encontro, já que na quantidade do produto não houve alteração ou perda para nenhum dos lados? Ocorreu um enriquecimento mútuo. Após o encontro entre os transeuntes, cada qual levou para casa, além de um pão, uma ideia nova. Entre os frutos do diálogo, está o alargamento de horizontes possibilitado pelas ideias que são partilhadas. Mas o que ocorre quando cerramos as portas à perspectiva dialógica?
Quando fechamos os canais ao diálogo criamos os nossos castelos sombrios de autossuficiência, com seus fantasmas, inimigos e pesadelos. Somos, em boa medida, tomados pelas ideologias e polarizações que julgamos possuir, as quais nos arrastam e cegam. Fomentamo-las como verdades apodíticas e nos tornamos seus reféns. Passamos a dar vazões a ressentimentos, alimentar rivalizações, construir espíritos faccionistas e intolerantes, nutrir o coração com discursos violentos, separatistas, xenofóbicos e de apologia às armas, para aplacar nossos medos. Em nome dessas ideologias, sacrificamos a verdade do Evangelho de Jesus. A partir dessa reflexão, que luzes nos oferece a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 para debelarmos tais caminhos obscuros?
A atual Campanha da Fraternidade propõe o diálogo como paradigma para a vivência da fé em Jesus e superação das polarizações. À luz da conversação/encontro de Jesus com os dois discípulos de Emaús, ela nos exorta, pela fé/esperança na ressurreição, ao diálogo com o próximo. A escuta do ressuscitado, tal como acontecera com os discípulos de Emaús, leva-nos à abertura de perspectivas e, consequentemente, ao rompimento de cegueiras, derrubada dos muros do ódio e da separação e à construção de pontes para a unidade na família cristã e na sociedade. Evocando o pensamento do Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti, o diálogo como fruto do amor é condição necessária para “pensar e gerar um mundo aberto”, em conformidade com a fraternidade e a solidariedade universais.