Costumamos chamar de belo aquilo que agrada os nossos sentidos, principalmente o ouvido e a visão. Mas a beleza de algo poderá ser percebida e mensurada através desses úteis, mas frágeis meios dos quais se valem o homem? Falo isso pelo fato de a beleza ser algo sério que ultrapassa o entendimento humano. De qualquer forma, não me parece ser beleza aquilo que vemos, ouvimos ou acessamos com outros sentidos.
De fato, recorrendo à língua grega clássica, construída a partir da sabedoria daquele povo, encontro uma luz para o meu problema e o problema que confunde a humanidade. O termo utilizado para designar sensação, algo perceptível, relativo à sensação, sensível é o termo Aisqhtikóv (pronúncia: aistetikós), que é a raiz de uma palavra bem conhecida: estética. Resumindo: é à estética que chegamos através dos nossos sentidos, que é um meio inferior para se conhecer algo.
Deriva-se daqui uma característica da estética, que é o agrado subjetivo. Algo pode ser esteticamente agradável a uns e a outros não, pois isso está no nível das sensações. Bach, por exemplo, não tem o estilo de música que me agrada, mas agrada a outros e não há problema nisso: a cada um agrada o que lhe apraz aos sentidos. Os tempos também revelam uma fragilidade do estético e podemos observar isso levando em consideração o estilo gótico, que foi agradável em apenas um momento da história e, apesar de durar centenas de anos, deixou seu rastro de efemeridade por onde passou.
Porém, a beleza é algo diferente. Ela está no objeto em si, é eterna e não depende das sensações, mas do quanto algo está ligado ao sumo bem, que é Deus. O bem e o belo se identificam e talvez seja por isso que Cristo é chamado de Bom e Belo Pastor. Onde está o bem está também o belo.
A música de Bach, retornando ao exemplo dado, pode ser esteticamente agradável a uns e desagradável a outros, mas será bela se estiver unida a Deus, fazendo com que os seus ouvintes se unam a Ele. Apliquemos isso também às igrejas. Não se diz que um templo é belo porque ele tem torres altas, vitrais iluminados, altar de mármore etc., mas ele é belo em si mesmo, pois é casa de Deus, tenda da reunião. As ações humanas também serão belas se forem do modo como nos ensinou Jesus. Desse modo, como podemos dizer que alguém não é belo se a beleza consiste em sermos filhos do próprio Deus?
Mas só se enxerga isso com os olhos da alma e não com os do corpo. Se nos esforçarmos para contemplar com os olhos espirituais, os olhos da fé, aquilo que se apresenta aos nossos sentidos, distinguiremos o belo do feio; e, fazendo esse exercício espiritual, priorizaremos aquilo que de fato tem importância na nossa vida.
Não nos enganemos, porém, quanto à utilidade da estética. Ela não é desnecessária. Ao contrário, ela deve ser levada em conta quando motiva um grande número de pessoas mais facilmente à união com Deus. Uma música de Bach poderá ser bela e conduzir ao bem; contudo, numa zona rural da nossa região, ela não será entendida e, consequentemente, não será aproveitada.
A beleza salvará o mundo, diz Dostoievski, mas é a verdadeira beleza.