No começo desse terceiro milênio, todos nós filhos da Igreja, somos convidados a progredir com renovado impulso na vida cristã. Como escreveu São João Paulo II, “não se trata de inventar um ‘programa novo’. O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar, para nele viver a vida trinitária e com ele transformar a história até a sua plenitude na Jerusalém celeste” (NMI). A concretização desse programa de um renovado impulso na vida cristã passa pela Eucaristia.
Cada esforço de santidade, cada iniciativa para realizar a missão da Igreja, cada aplicação dos planos pastorais deve extrair a força de que necessita do mistério eucarístico e orientar-se para ele como seu ponto culminante. Na Eucaristia, temos Jesus, o seu sacrifício redentor, a sua ressurreição, temos o dom do Espírito Santo, temos a adoração, a obediência e o amor do Pai. Se transcurássemos a Eucaristia, como poderíamos dar remédio à nossa indigência!
O caminho que a Igreja percorre nesses primeiros anos do terceiro milênio é também caminho de renovado empenho ecumênico. Os últimos decênios do segundo milênio, com seu apogeu no grande Jubileu do ano 2000, impeliram-nos nessa direção, convidando todos os batizados a corresponderem à oração de Jesus: Que todos sejam um! (Jo 17,11). É um caminho longo, cheio de obstáculos humanos que superam a capacidade humana; mas temos a Eucaristia e, na sua presença, podemos ouvir no fundo do coração, como que dirigidas a nós, as mesmas palavras que ouviu o profeta Elias: “levanta-te e come, porque ainda tens um caminho longo a percorrer” (1Rs 19,7). O tesouro eucarístico, que o Senhor pôs à nossa disposição, incita-nos para a meta que é a sua plena partilha com todos os irmãos, aos quais estamos unidos no mesmo batismo. Mas, para não desperdiçar este tesouro, é preciso respeitar as exigências que derivam do fato de ele ser sacramento da comunhão na fé e na sucessão apostólica.
Nos sinais humildes do pão e do vinho transubstanciados no seu corpo e sangue, Cristo caminha conosco como nossa força e nosso viático, torna-nos testemunhas de esperança para todos. Se a razão experimenta os seus limites diante desse mistério, o coração iluminado pela graça do Espírito Santo intui bem como comportar-se, entranhando-se na adoração e no amor sem limites.
Façamos nossos os sentimentos de Santo Tomás de Aquino, máximo teólogo e ao mesmo tempo cantor apaixonado de Jesus eucarístico, e deixemos que o nosso espírito se abra também na esperança à contemplação da meta pela qual suspira o coração, sedento como é de alegria e de paz:
“Bom pastor, pão da verdade, / Tende de nós piedade, / Conservai-nos na unidade, / Extingui nossa orfandade / E conduzi-nos ao Pai. / Aos mortais dando comida, / Dais também o pão da vida: / Que a família assim nutrida / Seja um dia reunida / Aos convivas lá do céu”.
Por Dom Félix – Bispo Diocesano
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (9ª Parte).