Paolo Donati, refletindo sobre as novas mediações familiares, propõe a seguinte pergunta: a família não é mais mediadora no campo social? Em alguns campos a família é tratada como um “resíduo” chamado em causa apenas em casos problemáticos. Difunde-se a sensação de que a família deve desaparecer da cena pública. Chega-se até a qualificar como “sobrevivências” o empenho matrimonial e a valorização da estabilidade. Todavia, ele adverte, com razão, que, de fato, nenhuma investigação no campo confirma hoje a irrelevância da proveniência da família nas esferas não familiares.
Portanto, se por alguns aspectos e em alguns âmbitos, as mediações familiares diminuem ou se perdem, por outros aspectos, aumentam e surgem outras novas. No conjunto, a importância da família nas várias esferas não familiares não só continua a existir, mas é aumentada, seja nos comportamentos, seja nas exigências de legitimação cultural e política. Existe uma configuração toda nova. Se a família não define o estado social (e pode ser algo positivo), torna-se, porém, sujeito de relações imprevistas.
Hoje, entende-se que o filho não é um átomo isolado ou uma ilha, uma molécula que flutua no vazio. Retorna a preocupação pelos direitos das crianças. Busca-se o direito à identidade biológica do filho, como também às raízes culturais, étnicas e históricas. No passado, era a sociedade que impunha à família as mediações que esta devia exercitar; hoje, é o indivíduo que goza do direito de valer-se dessas mediações e de valorizá-las.
As mais recentes investigações põem em evidência que atualmente a família média, de forma diferente do passado, quando mantinha muitas relações e posições sociais, ela possui uma importância mais decisiva para o destino social e a qualidade de sua vida. Devemos reconhecer campos em que o desconhecimento estende-se de forma alarmante, especialmente no campo político, que deveria ter o maior interesse, pelo menos, em circunstâncias nas quais não podem ocultar-se efeitos e reações negativas para a família e a sociedade como um todo. É também acentuada a separação no campo educativo.
Fonte: Artigo sobre “Família: Dom e Compromisso, Esperança da Humanidade” do Cardeal Alfonso Lopez Trujillo.