A pandemia do COVID-19 está nos afetando a todos. É uma situação absolutamente excepcional e inédita, que desestrutura nossa vida e gera grande dor por tanto sofrimento humano. E nos faz refletir, interpelar e nos impulsiona a discernir: Qual é a mensagem de Deus ao coração do homem a partir do que está sucedendo?
O Papa Francisco, em sua alocução do último dia 27 de março, antes de dar a bênção “urbi et orbi” (a Roma e ao Mundo), implorando a proteção de Deus para toda a humanidade, disse que esta pandemia não é o momento do juízo de Deus, “mas de nosso juízo: o tempo para escolher entre o que conta verdadeiramente e o que passa, para separar o que é necessário do que não o é”, pois este mal nos recorda que somos vulneráveis, precisamos das outras pessoas e não somos autossuficientes.
O Santo Padre disse que nos acostumamos às grandes desigualdades e injustiças, a estilos de vida marcados pela ambição de poder e prestígio, assim como pelo consumo insaciável de muitos bens supérfluos; tudo isto à custa dos pobres, da natureza, ferindo a dignidade das pessoas e de povos inteiros, condenando-os a viver em situações desumanas.
A pandemia nos faz tomar consciência que “não temos escutado o grito dos pobres e de nosso planeta gravemente enfermo”, adverte o Papa Francisco. Se for refeito o equilíbrio, desfeito pela crise ecológica, então será possível uma nova harmonia e a restauração dos ecossistemas, donde a natureza volte à vida, o ar volte a ficar mais limpo, nas praias reapareçam os golfinhos, nos rios se voltem a ver os peixes e os pássaros voltem a cantar.
Em meio a esta crise, a esperança é que esta pandemia é superável se todos cooperarmos responsavelmente. Dela ninguém se salvará a sós. Em meio às experiências de insegurança, angústia e medo da solidão, este tempo também pode ser um momento de graça para deixar que Deus toque e cure nossas feridas, que nos transforme e nos renove interiormente, para que vivamos com olhos, ouvidos e o coração aberto a Deus, a nossos irmãos e à mãe natureza.
O Sínodo para a Região Amazônica, promovido pelo Papa Francisco, tratou de inverter a nossa perspectiva: de centralista a local, de globalizante a periférica, de monocultural a singular, pessoal. Se não soubermos recomeçar a partir desta nova perspectiva, a ciência curará os corpos, mas não as mentes. Se não soubermos recomeçar a partir do que é marginal, será difícil repensar o global que agora se mostra dramaticamente ameaçador.
Nestas circunstâncias, um verdadeiro amor ao próximo para salvar vidas e cuidar das pessoas mais vulneráveis, é respeitar as medidas relativas ao “isolamento físico social”.
Que estas restrições não nos levem a levantar muros e barreiras em nosso coração; mas, pelo contrário, tal como nos ensina o Papa Francisco na Oração do Angelus do último dia 29 de março, “o Senhor nos pede que tiremos as pedras de nossos corações, e a vida então voltará a florescer ao nosso redor. Cristo vive, e quem o acolhe e o segue entra em contato com a vida. Sem Cristo, ou fora de Cristo, não só não há vida, mas que se volta a cair na morte”.
Nas condições atuais a Palavra de Deus e a oração são nossa fonte principal de alento e força espiritual. Por isso, convido a todos a rezar uns pelos outros, pelas pessoas enfermas com o COVID-19, por suas famílias, pelas pessoas que cuidam dos enfermos, pelas numerosas pessoas em todo o mundo que faleceram por causa do vírus e por seus familiares em sua dor.
Prolonguemos o amor generoso, compassivo e misericordioso que Deus nos tem, sobretudo até nossos irmãos e irmãs que vivem em condições de grande precariedade por não ter renda suficiente para suas necessidades básicas. Procuremos discernir de que modo poderemos contribuir de maneira eficaz na prática da solidariedade para com todos eles, ajudando-lhes a superar esta situação tão difícil.
Que nos inspire e nos motive o testemunho de tantas pessoas (médicos, enfermeiras, pessoal de apoio, forças de segurança, religiosas, sacerdotes), que, em sua maioria, de modo anônimo, dão generosamente de si mesmos para cuidar da saúde dos demais, doando e arriscando inclusive a própria vida.
Com profunda gratidão apreciemos tantos exemplos de solidariedade e humanidade, e percebamos como através dessas pessoas Deus está presente no meio de nós, acompanhando-nos e cuidando da vida dos mais vulneráveis.
Na celebração desta Páscoa, vivida em tempos de pandemia, coloquemos nossa esperança na Cruz de Jesus, pela qual “fomos salvos, para que nada nos separe de seu amor redentor” (Papa Francisco).