A instituição da Eucaristia é celebrada na Quinta-Feira Santa, no contexto da Paixão e Morte do Senhor. Por isso, naquela data, não é possível uma comemoração mais solene desse Mistério maior da nossa fé. Por isso, a Festa de Corpus Christi acontece sempre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, em alusão à Quinta-feira Santa quando Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia.
A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV no dia 08 de setembro de 1264. Durante essa Festa são celebradas Missas festivas e as ruas são enfeitadas para a passagem da procissão com o Santíssimo Sacramento, que é acompanhada por multidões de fiéis em cada cidade brasileira.
Jesus diz que o Pão do céu é Ele mesmo. É a sua Pessoa que deve ser comida, que deve ser assimilada. É a sua existência, doada em favor dos homens, que deve se tornar a nossa existência. Não comemos o Pão eucarístico para ter Jesus mais perto de nós, mesmo porque Ele está sempre muito perto de cada pessoa, nem devemos comungar para pedir alguma graça particular, aproveitando a oportunidade de “Jesus ter vindo visitar-nos”, “ter vindo ao nosso coração”. Esta é uma forma sentimental e devocional de entender a Eucaristia, forma essa que deve ser superada para podermos penetrar no seu verdadeiro sentido.
Comungar o Corpo de Cristo quer dizer “aceitar identificar-se com Ele”. Significa oferecer-lhe a nossa pessoa, para que Ele possa continuar a viver, a sofrer, a doar-se e a ressuscitar-se em nós. Por isso que, antes de comer deste Pão, o cristão deve “examinar bem o próprio coração” e verificar se está realmente disposto a deixar que a vida de Jesus transpareça na sua vida.
Esta transformação da própria pessoa na pessoa de Jesus não acontece de forma mágica. Não é suficiente comungar muitas vezes. Quando Jesus disse que era preciso “comê-lo” não quis dizer que era preciso “comungar muitas vezes”. Há cristãos que entendem a Eucaristia como remédio que funciona automaticamente: basta tomá-lo e imediatamente produz o seu efeito. Para que produza resultados, a Eucaristia deve ser recebida com fé, com a disposição de se deixar transformar, um pouco de cada vez, na pessoa de Jesus.
Todos nós sabemos que não se pode receber a Eucaristia sem antes ter lido a Palavra de Deus. Por quê? Porque na Palavra nós descobrimos cada vez um aspecto novo da pessoa de Jesus; em seguida, no gesto de comer o seu Corpo, nós queremos que sua carne, sua humanidade assumida de nós na Encarnação e glorificada com a Ressurreição, transpareça na nossa, de uma forma sempre mais luminosa. É como se aceitássemos que Jesus se encarnasse em nós. Após a comunhão, quem nos vê fora da igreja, em casa, na rua, no trabalho, na escola, quem analisa nossas ações, quem contempla nosso semblante, nosso olhar e nosso sorriso deveria sempre reconhecer em nós Jesus, que continua amando, agindo, falando, ensinando, sorrindo…
Por isso, é importante reconhecer a centralidade da celebração da Eucaristia, em que o Senhor Jesus convoca o seu povo, o reúne em torno da Ceia da Palavra de Deus e da Ceia do Pão da Vida, o nutre e o une a Si na oferta do Sacrifício. Essa valorização da celebração litúrgica, em que o Senhor Jesus atua e realiza o seu mistério de comunhão, permanece válida, mas não pode acontecer em detrimento da adoração, como ato de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do Altar.
É errado contrapor celebração da Eucaristia e adoração à Eucaristia, como se estivessem em concorrência uma com a outra, pois o culto é o ambiente espiritual no qual a comunidade pode celebrar bem a Eucaristia. Somente quando for precedida, acompanhada e seguida por essa atitude interior de fé e adoração, a ação litúrgica poderá expressar seu pleno significado e valor. Comunhão e Contemplação não podem se separar; elas caminham juntas.
Com esta fé celebramos o Mistério Eucarístico e O adoramos como centro de nossa vida e como coração da Igreja e do mundo, mas o façamos profundamente inseridos na comunidade, que deve ser casa da Palavra, da Eucaristia e da Caridade.