É impressionante ver como se perde terreno onde se davam passos promissores para o reconhecimento da criança como seu lugar central, não periférico ou marginal. A criança é um ser ameaçado, desde quando está no ventre da mãe, que os parlamentos transformam no lugar das mais injustas sentenças de morte! Enquanto se dão passos firmes na “Convenção dos Direitos da Criança” da ONU e a Igreja luta por um estatuto de proteção da criança, proliferam os atentados, de toda espécie, e não se encontra sempre a devida coerência entre aquilo que se escreve e promete e a conduta concreta. Por exemplo: há um abismo de separação entre a Convenção das Nações Unidas e recomendações do Parlamento Europeu. Ainda é muito tímida a reação ante os escândalos que golpeiam e sacodem salutarmente a consciência dos povos, mesmo se tais situações sejam a consequência de uma permissividade difundida. São as crianças as principais vítimas! Esta atitude pode representar um caminho de retorno depois da prostração.
De acordo com a Familiaris Consortio (26), sobre os direitos das crianças, o Pontifício Conselho para a Família vem explicando, com meios bem limitados, uma mobilização das consciências, especialmente, no que diz respeito à “autoridade” da criança na família e na sociedade. O Papa já havia dito na audiência geral das Nações Unidas, de 02 de outubro de 1979, que “a solicitude pela criança, ainda antes do nascimento, desde o primeiro momento da concepção e depois nos anos da infância é primária e fundamental prova da relação do homem com o homem” (FC 26). O “teste” para a verificação do estado de saúde da família e da sociedade é dado pelo cuidado amoroso pelas crianças.
Fico muito preocupado ao ver que os pais dão excessivo peso aos “seus” problemas (como se o filho pudesse ficar à margem), em busca de uma felicidade que se apresenta inacessível, longe dos pontos de referência que regulam a vida dos que decidem compartilhá-la, deixando em segundo lugar a situação do filho. Não é o divórcio uma prova inconfundível de que o filho sofre pela falta de amor dos pais?
A preocupação dos pais pelo filho dá, num processo normal, um sentido novo de responsabilidade e o casal não pode resolver “os seus problemas” à custa da perda e do dano de quem se transforma no testemunho da qualidade do seu amor e dos graus de personalidade de quem lhes deu a vida. A criança pode transformar-se também numa vítima que reclama seus direitos, mesmo se o faz no silêncio.