Atualmente, cresce a preocupação pelos custos sociais e pela destruição dos direitos das crianças, porém não se vê como dar continuidade numa sociedade que caiu num sono pesado. Contemplando a criança como dom, na transparência de uma inocência que convida a tratá-la com um amor privilegiado, comprometido e terno, torna-se mais penoso o contraste da sua negação de fato. Diríamos que, junto ao portal de Belém, são mais escuros os riscos dos propósitos de Herodes, como o são os massacres físicos e morais, que cobrem as vítimas mais indefesas do nosso tempo.
Quem não se sente impulsionado à oração diante do espetáculo maravilhoso da criança que dorme? As inúmeras possibilidades se ligam à pureza original do dom. E pensar nas terríveis matanças que ocorrem! Por exemplo: Durante o genocídio em Ruanda foram assassinados no templo aproximadamente seis mil mulheres e crianças. A humanidade prossegue no seu “auto genocídio”, e refiro-me aos abortos que sepulta o próprio futuro!
Se for verdade o que diz Platão, segundo o qual “a educação das crianças é o princípio de que se vale toda comunidade humana para a própria conservação”, temos que dizer que as comunidades que, em lugar de educar os filhos, usam-nos para o sexo, a guerra, o mercado, a publicidade, decidiram já sua extinção e bem têm consciência.
Ser filho, por outro lado, exige uma maneira de viver, um comportamento: o filho orgulha-se de seu pai e o manifesta com o gesto de pôr-se em suas mãos, como ato que exprime a suprema confiança de que o pai corrigirá tudo aquilo que é errado e desordenado. Reconhece-se como filho quando dialoga com seu pai e o chama na confiada apelação como Abba! É o relacionamento de Jesus com seu Pai, que vai desde a infância até a morte, até o último grito do Filho abandonado pelo Pai na cruz.