Jesus entra numa especial relação, no contexto familiar, com sua Mãe, de cujo ventre provém. “Bendito é o fruto do teu ventre”. É uma relação que vai além dos limites biológicos e que alcança as dimensões insuspeitáveis de um diálogo que frutifica na obediência pronta, terna, decidida a cumprir a vontade de Deus. “Uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: ‘Feliz o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram’. Porém Jesus disse: ‘Antes, felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põe em prática’” (Lc 11, 27-28). Jesus não contradiz esta bem-aventurança, que ele bem sabe que merece plenamente sua mãe, mas anuncia uma bem-aventurança superior.
Os filhos, que são um dom de Deus (Sl 126, 3), tem a responsabilidade de configurar-se como dom aos pais, obedientes à vontade de Deus, confiando neles, na mesma corrente que leva até Deus. Jesus “desceu com seus pais para Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2, 51). Ele cumpre com absoluta perfeição o mandamento: “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas uma vida longa sobre a terra que o Senhor teu Deus te dará” (Ex 20,12; Dt 5,16). “A família cristã é uma comunhão de pessoas, reflexo e imagem da comunhão do Pai e do Filho no Espírito Santo” (CIC 2205).
O filho é um dom que fortalece notavelmente o vínculo matrimonial e serve de cimento à compreensão dos esposos que constroem juntos um projeto comum, os faz sair de si mesmos para encontrar-se no seu futuro, que é a vida nova que deles, unidos ao Deus Criador, surgirá. Projetados no filho, os pais constroem seus futuros. De certa forma, estes, os primeiros evangelizadores de seus filhos, são também por eles evangelizados. O cuidado dos filhos se traduz em confiança, como atitude humana fundamental.
Escreve Giuseppe Angelini: “É conhecido por todos o grande valor que os filhos encontram na compreensão recíproca entre os pais. Mais que de grandíssimo valor, é necessário falar de uma incapacidade radical dos filhos pequenos de imaginar suas vidas e o mundo inteiro sem esta compreensão”. Assim sendo, os filhos serão uma bênção, uma iluminação do sentido amplo da vida. Uma exigência para receber o dom dos filhos que compromete é saber empenhar-se: “A verdade no ato gerativo exige, portanto, que, desde o começo, o homem e a mulher prometam-se a si mesmo àquele que deve vir”.