Na catequese sobre o amor humano, João Paulo II fala da “linguagem dos corpos” que, na união conjugal, significa não só o amor, mas também a potencial fecundação e, portanto, não pode ser privado no seu pleno significado. Como não é certo separar artificialmente o significado de união e procriação, o ato conjugal privado da sua verdade interior, porque privado da sua capacidade pro-criativa, deixa de ser também um ato de amor.
O filho introduz-se na dimensão da espiritualidade do matrimônio que se abre à vida. Precisaria aqui seguir as pistas de uma reflexão que vai do amor trinitário ao amor conjugal. A família que cresce à imagem da Trindade, o “nós” da família à imagem do “nós” trinitário, inclui o filho que surge do amor total e fecundo. Segundo a afirmação de 1Jo 4,16, “Deus é amor” (ágape), a suprema plenitude do amor que doa e acolhe não um “eu” só, fechado em si mesmo, mas um “eu” que vive em si mesmo uma existência de amor interpessoal, uma eterna geração que surge do amor e conduz ao amor, de onde o intercâmbio de dom, de acolhida entre as primeiras duas pessoas divinas (Pai e Filho) alcança a sua plenitude no seu encontro com a terceira pessoa divina (Espírito). O vínculo sobrenatural entre os esposos é revestido deste valor trinitário. A graça sacramental representa o dom divino desdobrado no coração dos esposos como semelhança dinâmica que estrutura em profundidade a vida dos esposos e os faz sinais e participação na comunhão tri-pessoal de Deus.
É preciso lembrar que o filho ou os filhos, o “bem da prole”, são a razão de ser do matrimônio. Assim, o sentido do matrimônio e o amor de dois encontram sua mais profunda expressão, sua mais íntima e preciosa realização, no ato conjugal em si mesmo, feita abstração da ordenação ao filho. A realização da unidade conjugal já justifica a instituição matrimonial.
O Concílio lança uma forte luz para mostrar o sentido pleno do matrimônio e contrasta estas e outras posições similares: “O matrimônio e o amor conjugal estão ordenados, pela sua própria natureza, à procriação e à educação dos filhos. Deste modo, os filhos são um dom preciosíssimo e contribuem muito ao bem do próprio casal. Em consequência, a autêntica prática do amor conjugal e toda estrutura da vida familiar, que nasce sem deixar de lado os demais fins do matrimônio, tendem a capacitar os esposos a cooperar valorosamente com o amor do Criador e Salvador, que através deles aumenta e enriquece a sua família” (GS 50).
Fonte: Artigo sobre “Família: Dom e Compromisso, Esperança da Humanidade” do Cardeal Alfonso Lopez Trujillo.