A Carta do Santo Padre às Famílias, Gratissiman sane, dá uma sólida base doutrinal e pastoral à integridade do serviço à vida, às famílias e a partir da família. No número nove, dedicado à genealogia da pessoa, escreve: “A genealogia da pessoa está ligada a uma família Paternidade e maternidade fundem suas raízes na biologia e, ao mesmo tempo, a superam”. Posiciona-se, pois, em referência a Deus: “O próprio Deus é presente de um modo diferente, como acontece em cada geração sobre a terra”.
O caráter de dom que é o filho é mencionado no texto bíblico: “Adão conheceu sua mulher Eva, a qual concebeu e deu à luz a Caim, e disse: ‘Possuí um homem por (auxílio de) Deus” (Gn 4,1). É como uma garantia, apesar de o filho concebido ter se tornado o assassino de seu irmão. É uma exclamação alegre por um homem novo, por uma nova vida.
No NT, o nascimento de um homem constitui um sinal pascal; Jesus, falando a seus discípulos, antes da sua paixão e morte, contrapõe a tristeza, que os atingirá e será semelhante às dores do parto, à alegria na qual estes se transformam como quando se dá à luz um homem que vem ao mundo. Felicidade e alegria diante da vida que nasce, o que não acontece na cultura da morte. Na desconfiança sempre maior que tal cultura difunde no mundo de hoje, com sociedades doentes, se corre o risco de experimentar sempre de menos. A alegria que na espera e acolhida do novo filho deve encher as casas, transforma-se num processo triste, às vezes indesejável, como se o canto dos anjos e dos pastores em Belém não tivesse seu eco em cada casa, com toda humana “pobreza”, como feridas produzidas na humanidade, que tal atitude comporta e contrasta com aquelas de quem quer um filho a todo preço! Contraste que, todavia, não deve fazer com que o dom do filho seja interpretado como um “direito” que pode ser invocado, inclusive recorrendo a atos contrários à moral, porque não expressam a verdadeira doação, no ato conjugal pessoal.