Um conhecido moralista põe nos lábios de uma criança estas palavras que com prazer transcrevo: “Não tema acolher-me, assegurar-me a minha vida como um dever! Este não será para nós um trabalho pesado, mas, contrariamente, será um trabalho tão leve até conseguir aliviar sua vida oprimida. Eu não sou um patrão despótico. Serei capaz de tal reconhecimento, que me transformarei, para vocês, em uma recompensa maior que suas fadigas”.
É o Senhor quem nos ensina com a palavra e com os gestos: “Tomou um menino, colocou-o no meio deles e, depois de abraçá-lo, disse-lhes: ‘Quem receber um destes meninos em meu nome, a mim me recebe, e quem me receber, não recebe a mim, mas Aquele que me enviou” (Mc 9,36-37). O sinal de acolhida já leva a mensagem do dom oferecido e na acolhida remete ao Doador de todo bem. Os filhos são uma bênção, uma mensagem transmitida na espontânea ternura que caracteriza especialmente o lar; e, antes que sejam vistos como uma carga pesada, são portadores da Boa Nova que, neles, proclama-se e resplandece.
Diríamos que o Evangelho da Família e o Evangelho da Vida, que ressoam na Igreja Doméstica, Santuário da Vida, são o local onde o próprio filho proclama a sua dignidade. Deus Criador o chama à existência “para si mesmo”, e ao vir ao mundo começa, na família, a sua “grande aventura”, a aventura da vida. Este homem tem o direito à sua própria afirmação pela sua dignidade humana. É precisamente esta dignidade que determina o lugar da pessoa entre os homens e, antes de tudo, na família. Este “antes de tudo, na família”, que apenas nos adverte da inseparabilidade entre a família e a vida, traz a verdadeira alegria que palpita em cada vida nova com original totalidade.
“O Evangelho do amor de Deus pelo homem, o Evangelho da dignidade da pessoa e o Evangelho da vida são um único e indivisível Evangelho” (EV 2). Na família este Evangelho vive-se como uma aventura que surpreende e provoca a capacidade de maravilhar-se, conservando, como Maria, tudo no seu coração. O mistério de Belém e Nazaré é portador de uma verdade antropológica, da vida como um dom, na dignidade que o amor de Deus assume e alimenta: “O filho de Deus, com sua encarnação, uniu-se de certa forma a cada homem” (GS 22).