A Campanha da Fraternidade é um dos modos de viver o período quaresmal na Igreja do Brasil. Desde a sua origem em 1964, ela tem como objetivo despertar a solidariedade dos seus fiéis e dos cidadãos em relação a um problema concreto que envolve toda a sociedade, buscando caminhos de solução, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja.
Ela tem seu tempo forte durante a Quaresma, quando somos convidados a contemplar o mistério da Cruz de Cristo para realizar uma conversão profunda de nossa vida. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer nossa debilidade, acolher a graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
Para isso, é preciso deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo; orientar com decisão nossa existência conforme a vontade de Deus; libertar-nos do egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. Um coração que se converte está disposto a amar e servir, a exemplo de Cristo, sobretudo os mais pobres, os que se encontram nas periferias existenciais e geográficas. É amar com um amor ousado e criativo que rompe com o egoísmo e a indiferença e que naturaliza a caridade em nossas ações.
A caridade cristã, resposta de uma vida impelida pelo amor de Cristo, nos leva a amar e buscar o bem comum, considerando cada pessoa também em sua dimensão social. Assumir a Campanha da Fraternidade é abraçar a oportunidade de vivermos o amor como serviço ao próximo e de vivermos a fé como missão. É se envolver com cada pessoa que encontramos no caminho. É agir como o bom samaritano: ver, compadecer, cuidar e dialogar!
Neste ano de 2021 o tema da CF é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e seu lema, “Cristo é a nossa paz; do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2, 14). Inseridos num mundo marcado por polarizações, ódio, fechamento, individualismo e indiferença, somos convidados a recuperar nossa capacidade de tolerância e fraternidade, somos chamados a edificar um novo humanismo alicerçado na ética cristã. Não podemos permanecer indiferentes a esta realidade que banaliza a vida, gera conflitos, violências, discriminações e radicalizações.
O testemunho de diálogo e de convivência fraterna das Igrejas cristãs é um precioso testemunho para um mundo que já não dialoga mais. Dialogar supõe a redescoberta do valor e da beleza do outro. Requer escuta e abertura. É um processo com ritmo próprio que visa compreender o outro. No diálogo, não há vencedores nem vencidos, não há uma palavra que prevalece, mas palavras que desencadeiam processos de conhecimento. Isso não significa acolher como dogma a verdade do outro, mas respeitá-lo e com ele compartilhar o que compreendemos da vida, do mundo e de todo o emaranhado de relações que nos envolvem.
O diálogo deve proporcionar uma mútua compreensão em vista da boa convivência e da superação dos conflitos tornando-se caminho e instrumento para a construção da paz e da civilização do amor. Dialogar é conviver. Supõe convívio. É conhecer a visão de mundo do outro e saborear sua presença como pessoa única no mundo. É compreender o outro e perceber os pontos em comum que nos unem. O diálogo não só cria conexão, mas a revela, demonstrando que há mais coisas que nos unem do que aquilo que nos separa. Por essa razão, não há diálogo sem escuta, paciência, tempo e coração dedicado.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a destruir os muros que nos separam. Não apenas eliminar os muros, mas também abrir mão dos entulhos que podem ser instrumentos de violência quando trocamos acusações e ofensas, quando não ouvimos e não cuidamos do outro como um irmão. Não é suficiente destruir os muros. É preciso construir pontes, ser elo de comunhão, promover a cultura do encontro e da fraternidade.