Padre Nelito Dornelas: Profeta da Esperança e da Alegria!
Retomando as palavras do padre Geraldo Martins, da arquidiocese de Mariana, sobre o padre Nelito, queremos fazer memória desse querido irmão que a todos enriqueceu com sua vida.
Nelito morreu como viveu: lutando! Forjou seu ministério presbiteral no bojo da recepção do Concílio Vaticano II e das conferências episcopais latino-americanas, especialmente Medellín e Puebla. A força destes eventos impactou sobremaneira o padre que ele viria a ser: apaixonado pelo Reino de Deus, arrojado, destemido, entregue à defesa da vida em quaisquer formas sob as quais ela se encontre. Encharcou-se de Esperança e do desejo de ver um mundo transformado, um mundo novo; um outro mundo possível! Tornou-se padre para servir! Aprendeu bem da parábola dos talentos e dispensou os tantos que Deus lhe deu no serviço aos irmãos; especialmente os mais vulneráveis, os sem vez e sem voz. Gritou o Evangelho com a vida! Fez do seu ministério uma plataforma para o diálogo com os iguais e com os diferentes. Sempre compreendeu que a diferença enriquece, faz crescer; que o diferente não é, per si, ameaça. Mas que juntando forças várias podemos ir mais longe e construir mais e melhor para todos. Soube fazer-se irmão universal! Foi padre com um pé no altar e outro no meio do povo. Viveu desde sempre o que o papa Francisco propõe aos pastores na Evangelli Gaudium: que sejam pastores com cheiro das ovelhas. Era entusiasmado com o pontificado de Francisco. Reconhecia nele um discípulo fiel do Mestre de Nazaré na vivência da simplicidade, na disposição para a paz, para o diálogo, para ser Igreja em saída no acolhimento e defesa de todos – uma aurora na Igreja em tempos tão conturbados para a humanidade.
Nelito não se esquivava de estar entre os simples ou entre doutores. Transitava com simpatia e facilidade entre esses vários mundos, exalando conhecimento, simplicidade e alegria. Esta é uma das suas marcas. Podemos dizer que seu refrão fosse: “faz noite, mas eu canto”. Não se deixava abater pelo contexto adverso. Tornou-se epifania; desvelou-nos com sua alegria um prisma de Deus. De Charles de Foucauld aprendeu a capacidade de abrir-se e acolher a todos, a bondade, a sobriedade e a modéstia. Tinha grandeza de pensamento, coração ancho, inteligência brilhante e memória invejável, que tornava cada explanação sua ainda mais sedutora pela riqueza de detalhes que trazia nos casos e causos que contava para enriquecer o tema.
Abraçou com paixão as pastorais sociais, inspirado pelo Evangelho e pela Doutrina Social e Ecológica da Igreja. Profetizou! Anunciou com esperança que esse mundo pode ser um lugar melhor para todos. Denunciou com coragem os desmandos e as injustiças de uns poucos sobre muitos. Serviu em muitas frentes: CNBB, CPT, Caritas Diocesana-GV, Paróquias da Diocese de Valadares, Comissão de Defesa da Bacia do Rio Doce, CEBs, Grito dos Excluídos, IMILE, Seminário Diocesano Nossa Senhora Auxiliadora-GV, Instituto Teológico Dom Hermínio Malzone Hugo, Conselho do Laicato da Diocese de Valadares, organização das Semanas Sociais Brasileiras e dos Encontros Intereclesiais de CEBs e tantos outros serviços dos quais nem tomamos conhecimento.
Viveu conforme o chamado que ouviu: “Vem e segue-me”. Seguiu Jesus até o fim; até sua Páscoa definitiva. De sua vida fica para nós a inspiração para também sermos fiéis no seguimento a Jesus – das menores às maiores escolhas, pensamentos e decisões. Sua vida continuará a nos dizer que vale a pena crer no Evangelho de Jesus Cristo; que vale a pena lutar por justiça; que vale a pena entrincheirar-se na seara do Senhor; que vale a pena sonhar com outro mundo possível; que vale a pena sonhar o sonho de Deus para a História; que vale a pena viver na alegria dos que vivem como irmãos. Padre Nelito exerceu o apostolado da bondade! E os bons nunca morrem!
Por Virlene Mendes – Teóloga
Homenagem de Padre Wladmir Gonçalves
A primeira ordenação de padre que eu participei foi a do Pe. Nelito, em Matipó; eu tinha 8 anos de idade e fui com meus pais para esta ordenação. Ele teve uma breve passagem por Alvarenga, quando ainda era diácono. Para quem não sabe, minha mãe é xará do Pe. Nelito, ela se chama Nelita.
Tive a oportunidade de conhecê-lo melhor no Seminário em Caratinga. Através das aulas, fui me aproximando dele e pude conhecer este grande ser humano.
Em 2006, após minha Ordenação Diaconal, fui designado para trabalhar como diácono na Paróquia São Judas Tadeu, com o saudoso Pe. Pedro Crisólogo e também com o, agora, saudoso Pe. Nelito.
Confesso que foi um tempo de muito aprendizado. Conheci um homem de fé, homem do Evangelho, profeta da esperança e da paz.
Tive a graça de tê-lo como pregador do retiro espiritual em preparação para a minha Ordenação Presbiteral. Ele refletiu comigo a Encíclica do Papa Bento XVI “Deus caritas est”, Deus é amor.
Naquele retiro espiritual, Pe. Nelito me disse: “Toda vez que você for celebrar uma Missa, reze como se fosse a primeira vez, pois assim você não perderá o zelo e o significado do sacrifício da Missa: fazer da nossa vida sacerdotal uma entrega e doação à comunidade.
Ele deixou uma marca indelével em nossa diocese, sobretudo nas pastorais e movimentos sociais. Sua presença nos movimentos sociais era efetiva e afetiva; ele se entregava de corpo e alma naquilo que se propunha a fazer.
Pe. Nelito tinha “cheiro das ovelhas”, principalmente das ovelhas sem voz e sem vez. Sempre preocupado com as causas sociais, sempre combatendo as injustiças e opressões na busca por dignidade e direito dos sem vez e sem voz. E, falando em voz, quero ressaltar que ele, com toda sua bagagem de conhecimento, não era uma pessoa soberba, tinha o prazer de compartilhar seu conhecimento e sabedoria de uma forma clara e eficaz, sem ser arrogante.
Pe. Nelito, sua voz não será sucumbida e muito menos esquecida, o que você plantou ficará eternizado em nossos corações! Como disse a poeta Adélia Prado: “O que a memória amou já ficou eterno”. Sua voz profética continuará ressoando por todos os lugares que você passou, principalmente em nossa diocese.
Era prazeroso ouvi-lo em nossas reuniões, encontros e palestras! A saudade já existe, mas vamos continuar nossa história, nossa caminhada de Igreja e lutando sempre por uma Igreja mais solidária, misericordiosa, missionária e profética. Assim, estaremos sempre lembrando o saudoso Pe. Nelito.
Para finalizar, uma última palavra: Gratidão. Obrigado por tudo o que você fez pela nossa Igreja particular de Governador Valadares! Descanse em paz junto de Jesus, o Bom Pastor!