Jesus, nos Evangelhos, exige das pessoas que tenham fé. Além disso, exorta os próprios discípulos a terem fé. No fim do Evangelho de Marcos lemos a frase lapidar do Ressuscitado: “Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado” (Mc 16, 16). Não podemos compreender a Igreja nos seus primórdios sem a primazia da fé (LF 5). Igreja apostólica que “permanecia firme na fé e abria aos gentios a porta da fé” (At 14, 22-27). Para Santo Agostinho a fé é a ligação com Jesus Cristo que leva ao conhecimento (Com. Ev. João 29, 6). Para Inácio de Antioquia Jesus é “a fé vivente” (Carta aos Esmirnenses 10, 1).
O próprio Jesus, no entanto, perguntou: “O Filho do Homem, quando vier, encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18, 8). Nosso otimismo diz que encontrará, mas a pergunta não deixa de soar como uma advertência, numa realidade onde damos por certo que todos tem fé pura e verdadeira, bastando ter sido batizado e frequentar a comunidade. No entanto, a fé não é a mesma coisa que religião. A fé é um caminho que se faz exigindo unidade a partir do encontro com um Tu que é Jesus, a quem se acolhe e se aceita na escuta e abertura do coração, a partir de uma decisão radical por Ele e seu Reino. A natureza profunda da fé é ter confiança num Outro, que para nós é Jesus.
Crer em Cristo não é algo indiferente, um saber a mais, um dado da cultura humana. É um compromisso que brota de um encontro, uma decisão que implica e complica a vida, uma aceitação de sua cruz, uma mudança radical de horizonte. Crer em Jesus não é um saber, uma afirmação, uma adesão à prática da caridade ou da ética do bem, mas implica o mais profundo da consciência e da liberdade humana. Aceitar Cristo começa por renunciar a si mesmo e, depois, a todos os ídolos e projetos não compatíveis com Jesus Cristo (Lc 14, 33). Em última instância, exige-se conversão: “Se não vos converterdes e vos tornardes como crianças não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 18,3).