Quero apontar aqui as tendências que, a meu ver, atrapalham a vivência da fé na sua unidade e integralidade, o que exige vigilância da parte dos pastores:
Tentação de separar a lex credendi da lex orandi e da lex practicandi; de separar fé, oração e ação. Há a tendência a cuidar da árvore com os frutos sem prestar muita atenção às raízes, ou seja: à vida de oração, à espiritualidade e à liturgia, que não podem ser vistas como realidades ultrapassadas, pois são partes integrantes essenciais da vida eclesial. A Igreja, o batizado deve crer o que reza e praticar o que crê. E o que se deve crer está explícito. O testemunho é o primeiro meio de evangelização (EN 41); e este testemunho deve espelhar-se em Cristo Servidor, Pobre e Missionário.
A fé permeada apenas pelo emocional-afetivo e o folclórico. O narcisismo que domina a sociedade acaba entrando na ação evangelizadora e a torna vazia. Há um crescendo nesta cadência: Cristo sim, Igreja não; Deus sim, Cristo não; Deus não, religiões sim; religiões não, folclore religioso sim. Precisamos nos questionar até que ponto o desejo de satisfazer e de acolher as pessoas nos leva a passar por cima de verdades irrenunciáveis da fé, nos faz banalizar a Eucaristia em celebrações que fogem até mesmo ao decoro litúrgico etc. E aqui é necessário considerar que se corre o risco muitas vezes de trocar a grande Tradição Apostólica, recebida pelos apóstolos de Jesus e do Espírito Santo, e transmitida por eles e pelos Santos Padres da Igreja, por “tradições” eclesiais teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais (CIC 83).
Teologia tentada a limitar-se a ser Ciência da Religião. A Teologia é a fé iluminada pela razão, é diálogo da fé que busca compreensão. Ela é ciência, mas supõe a fé. Já a Ciência da Religião estuda a religião como fenômeno religioso, busca de sentido, mas sem a exigência da fé. Basta a razão. Cai-se na religião natural como se fosse Teologia. Isto é a fé fechada no subjetivismo, a doutrina sem mistério, o gnosticismo, uma das piores ideologias.
Confiança excessiva na ação humana sem levar em conta, como se deve, o primado da graça de Deus. Isto se configura como um pelagianismo, denunciado pelo Papa Francisco (GEx 47-48), que leva a atribuir tudo ao esforço pessoal e à vontade própria. A consequência é o “mundanismo” (EG 93). A opção pelos pobres não é mera opção social; ela é “cristológica” (Bento XVI). Esta opção brota da fé em Jesus Cristo, da misericórdia e compaixão, e não somente de uma indignação ética, diante da miséria, como se fosse uma ideologia, fruto da vontade ou do esforço humanos.