Amados irmãos, amadas irmãs! Querido povo de Deus! Caros ministros ordenados!
Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo estejam com todos!
Hoje, dia 11 de junho de 2022, temos a alegria e a responsabilidade de realizar nossa Assembleia Sinodal Diocesana, cujo início se deu, em 07 de setembro de 2021, com a apresentação do Documento Preparatório do Sínodo dos Bispos, com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, a ser realizado em Roma, em 2023. Desde então, as dioceses se organizaram para corresponderem a este grande desafio. O início oficial com o Papa foi em Roma nos dias 9 e 10 de outubro e, no dia 20 de novembro, começou o processo sinodal em nossa Diocese.
A Igreja sinodal, que o Papa Francisco nos pede para construir, tem a marca da humildade. É a Igreja que se reconhece como instrumento nas mãos de Deus. É a Igreja da escuta, que não se coloca acima de ninguém, mas a caminho com todos.
A sinodalidade não é apenas um método ou um conjunto de estruturas, mas um modo de ser Igreja: uma Igreja que se reconhece humildemente a caminho; uma Igreja na qual os fiéis leigos e leigas não são apenas destinatários passivos da ação dos ministros ordenados nem só cumprem ordens dos que presidem às comunidades.
O processo sinodal é espaço para escutar o que o Espírito diz às Igrejas, através da Palavra de Deus e das diferentes vozes e opiniões. Ele dá lugar à pluralidade num caminho de comunhão procurando o consenso com a contribuição de todos. No processo sinodal, as diferentes vozes precisam estar presentes. O consenso e comunhão aparecem no final do percurso. Porém, para que isso aconteça, o Papa Francisco nos pede que “cada um deve falar com liberdade e escutar com humildade”.
O discernimento comunitário exige a escuta, atenta e corajosa, do que o Espírito diz às Igrejas: escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar aí a vontade para qual Deus nos chama. Os discípulos de Cristo devem ser contemplativos da Palavra e contemplativos do povo de Deus. O discernimento deve se desenvolver em um espaço de oração, meditação, reflexão e estudo necessário para escutar a voz do Espírito; mediante um diálogo sincero, sereno e objetivo com os irmãos e as irmãs; com atenção às experiências e aos problemas reais de cada comunidade e de cada situação; no intercâmbio de dons e na convergência de todas as energias em vista da edificação do Corpo de Cristo e do anúncio do Evangelho.
O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja, hoje. De fato, a sinodalidade é dimensão constitutiva da Igreja, de modo que aquilo que o Senhor nos pede já está tudo contido na palavra ‘sínodo’. Composta pela preposição ‘com’ (‘sin’) e pelo substantivo ‘caminho’ (‘odós’), indica o caminho feito conjuntamente pelo povo de Deus. Remete, portanto, a Jesus, que apresenta a si próprio como ‘o Caminho, a Verdade e a Vida’, e ao fato de que os cristãos, em seu seguimento, são chamados ‘os discípulos do Caminho’.
A sinodalidade indica o específico modo de viver e agir da Igreja povo de Deus que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e na participação ativa de seus membros na missão evangelizadora.
A Igreja é chamada e habilitada como povo de Deus a endereçar o seu caminho na missão ao Pai, por meio do Filho no Espírito. A Igreja participa, assim, em Cristo Jesus e mediante o Espírito Santo, da vida de comunhão da Santíssima Trindade destinada a abraçar a humanidade inteira. No dom e no empenho da comunhão, encontram-se a fonte, a forma e a meta da sinodalidade, enquanto essa exprime o específico modo de viver e agir do povo de Deus na participação responsável e ordenada de todos os seus membros no discernimento e na colocação em prática das vias da sua missão. No exercício da sinodalidade, traduz-se, em concreto, a vocação da pessoa humana a viver a comunhão que se realiza, através do dom sincero de si, na união com Deus e na unidade com os irmãos e irmãs em Cristo.
Para realizar o desígnio da salvação, Jesus ressuscitado comunicou o dom do Espírito Santo aos Apóstolos. No dia de Pentecostes, o Espírito de Deus foi derramado sobre os que, provindos de todo lugar, escutam e acolhem o anúncio, prefigurando a convocação universal de todos os povos no único povo de Deus.
O Espírito Santo, do íntimo dos corações, anima e plasma a comunhão e a missão da Igreja, Corpo de Cristo e Templo vivo do Espírito. Crer que a Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica é inseparável da fé em Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
A Igreja é una porque possui sua fonte, seu modelo e sua meta na unidade da Santíssima Trindade. Ela é o povo de Deus peregrino sobre a terra para reconciliar todos os homens na unidade do Corpo de Cristo mediante o Espírito Santo. A Igreja é católica porque guarda a integridade e a totalidade da fé e é enviada para reunir num só povo santo todos os povos da terra. A Igreja é apostólica porque edificada sobre o fundamento dos Apóstolos, porque transmite fielmente a fé professada por eles e porque é ensinada, santificada e governada pelos seus sucessores.
A Igreja é santa porque é obra da Santíssima Trindade; foi santificada pela graça de Cristo, que se entregou a ela como o Esposo à Esposa e vivificada pelo amor do Pai infundido nos corações mediante o Espírito Santo. Na Trindade, realiza-se a comunhão dos santos no seu duplo significado de comunhão com as realidades santas e de comunhão entre as pessoas santificadas. Assim, o povo santo de Deus caminha rumo à perfeição da Santidade que é a vocação de todos os seus membros, acompanhado pela intercessão de Maria Santíssima, dos Mártires e dos Santos, sendo constituído e enviado como sacramento universal de unidade e de salvação.
A ação do Espírito na comunhão do Corpo de Cristo e no caminho missionário do povo de Deus é o princípio da sinodalidade. Sendo Ele o elo de amor na vida da Trindade, comunica este amor à Igreja, que se edifica como comunhão no Espírito. O dom do Espírito Santo, único e mesmo em todos os batizados, manifesta-se de muitas formas: na igual dignidade dos batizados, na vocação universal à santidade; na participação de todos os fiéis no ofício sacerdotal, profético e régio de Jesus Cristo; na riqueza dos dons hierárquicos e carismáticos; e na vida e missão de cada Igreja local.
O caminho sinodal da Igreja é plasmado e alimentado pela Eucaristia, que é o centro de toda a vida cristã. A sinodalidade tem sua fonte e seu cume na celebração litúrgica e, de modo singular, na participação plena, consciente e ativa na Missa. A comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo faz com que, apesar de sermos muitos, sejamos um só Pão e um só Corpo, pois todos nós participamos de um só Pão. A Eucaristia representa e realiza visivelmente a pertença ao Corpo de Cristo e a pertença mútua entre os cristãos.
A sinodalidade manifesta também o caráter ‘peregrino’ da Igreja. A imagem do povo de Deus, convocado dentre as nações, exprime sua dimensão social, histórica e missionária, que corresponde à condição e à vocação do ser humano como peregrino. O caminho é a imagem que ilumina a inteligência do mistério de Cristo como a via que conduz ao Pai. Jesus é a via de Deus até o homem e deste até Deus. O evento de graça com o qual Ele se fez peregrino, armando sua tenda entre nós, prolonga-se no caminho sinodal da Igreja.
A Igreja caminha com Cristo, por Cristo e em Cristo. Ele, que é o Caminheiro, o Caminho e a Pátria, doa seu Espírito de amor para que nele possamos seguir a via mais perfeita. A Igreja é chamada a caminhar sobre as pegadas do seu Senhor até que Ele retorne. É o Povo do Caminho rumo ao Reino celeste. A sinodalidade é a forma histórica do caminhar desse povo em comunhão até o repouso final. A fé, a esperança e a caridade guiam e dão forma à peregrinação da Igreja rumo à pátria celeste. Os cristãos são pessoas peregrinas e estrangeiras no mundo, agraciados com o dom e com a responsabilidade de anunciar a todos o Evangelho do Reino.
O povo de Deus está em caminho até o fim dos tempos e até os confins da terra. A Igreja vive através do espaço nas diversas Igrejas locais e caminha através do tempo desde a Páscoa de Jesus até a sua volta gloriosa. Ela constitui um singular sujeito histórico no qual já é presente e operante o destino escatológico da união definitiva com Deus e da unidade da família humana em Cristo.
Que esta nossa Assembleia Sinodal Diocesana seja o começo de um processo de escuta, de diálogo, de comunhão, de participação e de ação missionária, dentro das nossas comunidades, pastorais e movimentos, entre clero e laicato, que leve a criar uma cultura sinodal entre nós! Uma cultura do caminhar juntos, da colegialidade e da corresponsabilidade!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado.
Governador Valadares, 11 de junho de 2022.