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O Bingo nas Igrejas

O Bingo nas Igrejas

Bingo como uma prática injusta e opressora na Igreja

A natureza do bingo não é injusta ou opressora em si mesma; depende muito do contexto em que é praticado. Embora seja considerado por muitos uma forma inofensiva de entretenimento social, ele possui aspectos que podem causar danos significativos, especialmente quando envolve dinheiro e é voltado para populações vulneráveis.

O costume de realizar Bingo em nossas paróquias e comunidades – ainda que utilize outro nome, como Ação Solidária – não deixa de ser uma prática contrária ao Evangelho, a não ser que seja realizada apenas como entretenimento social, sem fins lucrativos.

Argumentos que apoiam uma visão mais neutra ou positiva:

Socialização e comunidade: O bingo tem um lado social forte, proporcionando um senso de comunidade e pertencimento, especialmente para idosos que podem estar isolados. Oferece um ambiente relaxante e previsível para interação social.

Uso educativo: Em ambientes educacionais, o bingo pode ser uma ferramenta útil para estimular a cognição e a socialização em crianças e adolescentes, ajudando a desenvolver a atenção, a concentração e o raciocínio lógico.

Sorte e imparcialidade (na teoria): Quando praticado de forma justa e legal, o resultado do bingo depende exclusivamente da sorte. A mecânica do jogo, baseada em sorteios aleatórios, dá a todos chance igual de ganhar, independentemente da experiência.

Argumentos que sustentam a visão de que o bingo pode ser problemático:

Riscos de vício em jogos de azar: Embora pareça um jogo “inocente”, o bingo é, na verdade, uma forma de jogo de azar e pode ser uma porta de entrada para outras atividades mais prejudiciais, como as máquinas de caça-níqueis. A excitação de ganhar, combinada com a imprevisibilidade do resultado, pode desencadear uma dependência compulsiva, consumindo o tempo, a energia e os recursos financeiros de uma pessoa.

Exploração de comunidades vulneráveis: Em muitos casos, os bingos com fins lucrativos se estabelecem em comunidades de baixa renda ou visam à terceira idade, uma população que frequentemente lida com solidão e isolamento social. A promessa de grandes prêmios pode ser particularmente atraente para quem busca uma forma de ganhar dinheiro fácil, explorando a vulnerabilidade financeira dessas pessoas.

Fraude e manipulação: Há casos documentados de manipulação de resultados por operadores de bingos ilegais, que desviam parte da arrecadação e usam “apostadores-laranja” para garantir que os prêmios mais valiosos fiquem com eles. Isso torna o jogo injusto para os jogadores honestos.

Consequências sociais e financeiras: O vício em bingo pode levar a problemas sérios, incluindo perdas financeiras significativas, falência, problemas legais e perda de emprego. Além disso, pode causar estresse, depressão, problemas de relacionamento e até levar a pensamentos suicidas.

Incompatibilidade com valores cristãos: Numa comunidade eclesial, a não ser que seja realizada sem o uso de dinheiro, apenas como entretenimento, a prática do bingo é sempre injusta e opressora, por vários motivos, dentre os quais cito os mais comuns:

a) são quase sempre as mesmas pessoas, geralmente as mais pobres e idosas, que pegam cartelas de bingo para vender e, quando não conseguem vendê-las, muitas delas pagam do próprio bolso para não ter que devolver cartelas não vendidas – o que é profundamente opressor e totalmente contrário à proposta do Reino de Deus;

b) no bingo, muitos contribuem financeiramente e apenas algumas pessoas ganham – o que é profundamente injusto e também totalmente contrário à proposta do Evangelho; diferentemente do leilão, no qual todos podem competir, mas só quem dá o lance maior é que paga para levar a prenda;

c) muitas pessoas gastam no bingo o dinheiro que deveria ser utilizado para a aquisição de produtos de primeira necessidade para si e para a família – e com o aval da Igreja, o que é imperdoável!

Em suma, o bingo não é opressor em si, mas pode se tornar uma prática injusta e exploradora, dependendo do contexto. Quando é usado como uma forma de entretenimento social, sem fins lucrativos, pode trazer benefícios de socialização e estímulo mental. No entanto, quando operado comercialmente e sem regulamentação, torna-se uma forma de jogo de azar que pode alimentar o vício, levar à exploração financeira de indivíduos vulneráveis e ser objeto de fraude.

Dom Félix

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